Quão cedo é agora?

Senta no banco ao lado da janela e observa a rua e a si mesma. Aquela velha música cantando a letra que já sabe de cor...Totalmente introspectiva, ela cai.

Nem viva, nem morta, nem nada, simplesmente cai dentro de si. É noite, o ônibus anda rapidamente pelas ruas, as pessoas são vistas de relance, as luzes da cidade se mesclam. Cidade escura, esta...

Encosta a cabeça na janela. Alguma lágrima quer brotar, que ela esconde com facilidade, assim como tudo.

"Poderia acontecer com qualquer um". Sim, poderia. Sempre pensando em hipóteses trágicas para chamar a atenção, sempre pensando nesse mesmo modo de pena de si. Trágico, deprimente.

"Ninguém é insubstituível", relembra. Aquela frase que a chefe insistia em dizer, sempre... Por um momento lhe vem na cabeça a imagem daquela pomba esmagada que vira de tarde, enquanto se dirigia para a parada de ônibus... Sim, uma pomba. "Quem sente falta? Apenas uma pomba no meio de tantas outras. E o ser humano? Realmente, ninguém é insubstituível... Tantas pessoas no mundo... Perde-se uma, sofremos. Ninguém é insubstituível.... Não para sempre. Ou apenas os pais se salvam dessa regra. Esposa? Esposo? Ora, morreu, sofremos, e depois de alguns anos simplesmente esquecemos... Talvez nos apaixonamos por outra pessoa... A maioria é assim. Raro encontrarmos diferente. Por que deve ser assim? Simples assim? As outras pessoas..." - A gastrite atacando novamente, veio com tudo.

Alguém ligando. Uma entrega tardia. Sim, infelizmente. Uma entrega tardia, uma espera tardia, pensamentos inválidos, sem sentido, pois as pessoas não respondem exatamente aos nossos sonhos, às nossas fantasias... Elas são imprevisíveis, ou tão previsíveis, já que sabemos que elas são assim... Não, elas são completamente previsíveis, não fazem questão de mudar o rumo das coisas, acomodadas a um mesmo caminho confortável e mais fácil, aliás quanto mais fácil melhor, até a parte em que algo ou alguém se perde, e aí é hora de construir novamente. E só assim elas sentem falta, mas não é eterno.

"See, i've already waited too long

And all my hope is gone..."

E então vai pensando.

Seguindo com os olhos as faixas na rua, as luzes se mesclam... A música. Aquela música tão indiferente, aquela letra tão solitária, um refrão tão indagante, "I am human and I need to be loved just like everybody else does...". Amor...

Os prédios e todas as suas construções. Tudo é feito para ser refeito, e modificado, tudo é criado para ser mudado, ou destruído. As pessoas estão dessa forma. Não existe aceitação, não existe força, apenas um conformismo com algo que se foi, e não deveria ser diferente, "é assim e é melhor assim.", mas ainda há pessoas que não aceitam isso, simplesmente. Por incrível que pareça...

Desce do ônibus. Atravessa a rua. Caminha olhando para baixo, cuidando sombras. O tempo está nublado, pesado. "Pode acontecer com qualquer um". Mas nunca com ela... Justamente, não acontece com ela. Ama o mundo, mas procura por provas. Ama o mundo, mas precisa de algo mais, uma troca, algo além do mundo. Ama o mundo mas... Simplesmente, não acontece com ela. Algo mais...

"There's a place if you like to go...

You could..."