O ANEL DE CASCA DE COCO
Hoje encontrei a artesã. Ela estende o seu expositor nas calçadas da cidade. Não sei o seu nome , não a conheço. Só aprecio o trabalho feito com sementes juntas por um fio, que ela habilmente confecciona sentada no chão. Não está na flor da idade , mas conserva belos traços e carrega em sua fisionomia marcas dos anos já vividos. Me dirigi a ela perguntando se havia voltado. Ficou surpresa e indagou se eu me lembrava dela. Afirmei que sim , de outras ocasiões em que já esteve por ali. O que vi foi um largo sorriso, aberto em seu rosto. Me disse então que não deveria ter mudado muito.Não mudou, foi minha resposta. A coisa mais surpreendente deste encontro, foi o que veio depois. Em um tom de confidência ela contou que havia chorado muito no dia anterior, porque havia completado 54 anos. Eu sorri, não sabia o que dizer, apenas observei que deveria se sentir feliz por isso. A conversa se encerrou aqui. Ela continuou o seu trabalho e eu onde estava. Alguns minutos depois me chamou e disse que iria me dar um presente. Ofereceu um anel de casca de côco. Disse que esta peça não é um simples anel, diz que traz uma simbologia antiga , que foi um anel usado por papas e reis antigos e que hoje simboliza a amizade.Pediu que eu não o desse para ninguém e o conservasse para dar sorte neste ano. Não sei o que a levou a fazer isto, talvez seja porque alegrei seu coração de alguma maneira.Talvez o tempo, o implacável tempo, tenha feito com que ela se recordasse de coisas boas que já se foram e não voltam mais, de sonhos não realizados e de quanto ela ainda dispõe para viver. Não sei. Coloquei o anel , e mesmo que ela não tivesse me pedido , jamais iria dá-lo a alguém.A sorte , com certeza, não é o anel que me trará. A sorte já está comigo. Encontrei-a na esquina, em uma tarde quente, das ruas por onde passo.