Humano, demasiado humano!

Esta manhã me aconteceu algo surpreendente, creio que a maioria das pessoas ao lerem as linhas a seguir pensarão se tratar de algum devaneio ou alguma tolice de gênero semelhante, bem, o fato é verídico, acreditem ou não é o que passo a narrar a partir de agora.

Ainda meio sonolento percebi que o colchão sob minhas costas parecia mais duro do que de costume, não sentia nenhum tipo de coberta sobre meu corpo, uma brisa suave acariciava meu rosto e minhas costas não paravam de reclamar de tal leito, apesar do incomodo serrei meus olhos para tentar dormir mais um pouco, acho que consegui, não sei quanto tempo fiquei desacordado, talvez trinta minutos, talvez uma hora.

Uma pancadinha atingiu minhas costas, abri meus olhos e não pude acreditar nas imagens que penetravam minha retina; estava eu cercado por grades, no chão serragem suavizava o locam onde me encontrava deitado, alguns poleiros que imitavam árvores e balanços de pneus adornavam o recinto, mas isso não era o mais esquisito, muitas pessoas se agitavam na tentativa de obter a melhor visão, ou um ângulo privilegiado para uma foto, atiravam-me amendoins folhinhas de plantas, faziam algazarra para chamar minha atenção, grupos de crianças, adultos, famílias inteiras; pude identificar em meio ao mar de vozes algumas pessoas que diziam: "- Olha que safadinho, que sem vergonha, está se escondendo da gente! Ei, olha pra cá!"

Levantei-me, e de um só salto estava agarrado às grades, como isso aconteceu não sei, era como se eu tivesse voado até ali, tentei falar algo, pedir para que me tirassem daquele lugar pois não estava entendendo coisa alguma, mas a tentativa foi inútil, pois ao abrir minha boca o que se ouviu foram grunhidos, a multidão aplaudiu, tirou fotos, e eu cada vez mais desconcertado, foram inúteis minhas tentativas de comunicação pois minhas palavras eram incompreensíveis. Olhei para os lados e além do espaço bastante arborizado havia outra cela, nela um chimpanzé triste contemplava o nada alheio aos apelos da multidão, de costas para ela e virado para o fundo de seu cárcere, fechado em seu próprio mundo, acenava e mandava beijos para o lado errado onde não se encontrava ninguém, uma triste cena do abandono de si mesmo, sentei-me no chão e comi uma banana.