VOCÊ É IMPORTANTE!

Maria Emília M.Redi

Aquele dia amanheceu contente! A brisa era fresca e o céu azul.

Mas, há certos dias, nos quais a gente se levanta e não enxerga a beleza. As preocupações com tantos afazeres fulminam a mente e sobrecarregam nossa sensibilidade...
 
Foi num destes dias que a campanhia soou.
 
Era um mendigo pedindo qualquer ajuda.

Atarefada, corri na sacada e falei:
 
- Hoje não tenho nada para lhe dar!

O homem olhou para mim  dizendo:
 
- Deus abençoe a senhora! e seguiu seu caminho...

Voltei para dentro de casa, mas, as palavras daquele homem martelavam na minha cabeça, no meu coração, na minha alma...

Desci as escadas correndo, peguei um saquinho de supermercado e coloquei dentro dele algumas coisas que estavam na dispensa.

Saí correndo atrás do andante, na angústia de não encontrá-lo mais, abri o portão e olhei pela rua, pelas calçadas...e, logo ali, uns metros de distância, estava ele cabisbaixo e tristonho.

- Fico contente que o senhor ainda esteja aqui; desculpe-me! Aceite estes alimentos que lhe trouxe, por favor.

Com um olhar triste, penetrante, murmurou:
 
- Pobre não deveria nascer! Tenho vergonha de pedir, mas estou desempregado e tenho família, prefiro pedir que roubar. Não sou ninguém, não tenho importância alguma... Seria melhor morrer. Que falta eu faria ao mundo? Mas, muito obrigado minha senhora por ter-se importado comigo, Deus a abençoe!

Olhei para ele e senti toda aquela tristeza de quem se sente carcomido pela dor do abandono por si mesmo...

Estendi-lhe a mão :
 
- Muito prazer, sou Maria!

Ele, assustado, receoso em me estender a mão, alegou que estava suja, olhou-me timidamente.

Continuei com a mão estendida e ele, por fim, estendeu a sua. 

- Muito prazer, sou Antonio José!
 
E segurou minha mão com delicadeza.

De seus olhos as lágrimas brotaram banhando-lhe o rosto e, talvez, a alma, num reconhecimento de que tinha um nome, que era alguém e havia encontrado uma mão amiga estendida.

Muito mais feliz fiquei porque pude olhar a beleza daquele dia espelhada no sorriso que se fez no rosto deste "irmão"!

Emocionada, não me contive :

 - Você é importante sim! Pois é Filho de Deus, nosso Pai. Tenho certeza que sua vida é muito importante para Ele que o quer ver feliz e confiante! Erga sua cabeça e se ponha na dignidade de herdeiro deste Pai maravilhoso. Sua vida recomeça agora. Confie!

Despedimo-nos.
 
O tempo passou ... nunca mais o encontrei.
 
Mas, qual não foi minha surpresa, quando num belo dia , ao atender a campanhia, deparei-me com aquele homem, quase não o reconheci
- barbeado, cabelo aparado e bem arrumado, com a esposa e os dois filhinhos no portão da minha casa.

Corri atendê-los.

O senhor Antonio José me apresentou à família, todo orgulhoso.

A emoção não me deixou dizer mais nada.
 
Mas, também não foi preciso, pois a Alegria da Paz falou por si mesma naquele instante...


* Amigos , este foi um fato que vivenciei há uns três  anos. Abraços, Mel
Mel Redi
Enviado por Mel Redi em 04/06/2009
Reeditado em 04/06/2009
Código do texto: T1632280