A vida é um aprendizado
No banco da praça da matriz, ao meu lado, Seu Tertulino, olhar baixo, preso em lembranças. Eu bem sabia do que eram. Não puxei conversa logo. Deixei-o sentir minha presença. Coisa que o grande coração dele notou.
_Já acordada, minha filha? Pergunto por que é muito cedo.
_Sim, Seu Tertulino, há horas acordei com insônia_ ele me olhou longamente.
_Oh, Maria! Você ainda é uma menina. Não estás doente, não é?
_Não senhor. São os últimos acontecimentos que me deixaram assim. Por vezes acordo no meio da noite e leio um pouco para conseguir dormir novamente. Hoje, foi na madrugada que a insônia chegou, então vim ouvir a missa daqui da praça. Os pássaros cantam.
_Desculpa, menina. Eu te conheço desde que pulava minha cerca para pegar goiabas maduras_ Por um instante tive a nítida impressão de que uma lágrima quisera descer nos olhos dele. Mas foi só uma impressão. Ele era uma fortaleza. _ Não me engana... Tu estás é com traumas das chuvas... E assustada como um gatinho com medo de água fria.
Eu não sou tão forte quanto ele. A lágrima desce...
_Sim, senhor. E sei que sou medrosa; já o senhor perdeu sua casa e não anda chorando feito uma mulher boba!
_Oh, minha linda! Deixa essas lágrimas caírem; fazem bem a ti_ e como eu as enxugava com as mãos, ele me passou um lenço de algodão... Estava escrito: “Dudu”.
_Sei que viu o nome de minha doce esposa... Vive-se conforme os dias surgem... nem de mais nem de menos...
_ O senhor lembra muito dela?
_Vivo cada instante com a graça de nosso Deus, mas espero pacientemente as horas que me restam para encontrá-la...
Tal comentário abalou suas estruturas, pois ele suspirou fundo e os lábios tremeram um pouco. Depois me olhou longamente e com ternura.
_Outros invernos virão... Não sei se ainda os verei, mas tenho certeza, menina, tu estarás firme olhando por teus filhos e uma casa que cai é uma só uma casa, não uma vida. E este teu rosto que sempre foi cheio de sorrisos deve se iluminar. Ouçamos os pássaros...
Pausa. Já passavam por nós as pessoas que saíam da reza de domingo. E nos olhavam. Éramos conhecidos de todos por ali. Alguns cumprimentavam em um bom dia e outros, mais observadores, sentiam nossa dor e apenas faziam gestos de cumprimentos. Por vezes, o silêncio é uma palavra de conforto.