Junkie box (a conhecer o desconhecido)
Pela noite chega o vento gélido, cortante. Eu caminho a procurar por algo que valha a pena. Os postes de iluminação fraca guiam os passos a serem dados pela obscura alameda. Rua vazia. Mente vazia. Vontade cheia, cheia de vontade em permanecer à procura do desconhecido. De repente uma luz mais intensa, fachada do prédio discreta, embora peculiarmente atraente aos olhos estridentes de um potencial indigente. A adentrá-lo, portanto. Caminho o caminho do desconhecido. Uma sala com algumas pessoas ordinariamente extraordinárias. Individualidade coletiva, eu diria, descreveria o ambiente austero. Algo que valha a pena procurar prescreve o cotidiano destas pessoas: a disponibilidade é ampla. Sento-me em um sofá vermelho no canto esquerdo da sala. Aguardo meu pedido por liberdade incondicional. Embora demore, não vou-me embora. Sei que ele virá. Tudo a seu tempo, como diriam alguns que gostam de atribuir ao acaso suas inconsequentes vidas inconscientes. Enfim, a demora da lugar à entrega. Recebo algo que valeu a pena esperar, apesar de, até o presente momento, ter sido algo engavetado no desconhecido. E para o desconhecido, então, devo ir em busca de uma iluminação diferenciada, intensamente extravagante. Na veia uma sensação conhecida que levará à realidade absoluta. Tranquilamente, relaxo-me no sofá, de modo a sentir o sangue correr pelas veias recém-interferidas. A sala era escura. A sala ganha cores. A sala está em ressonância com a frequência de minhas ondas magnético-cerebrais. O desconhecido torna-se, finalmente, conhecido. Levanto-me do sofá com listras amarelas e violetas apoiado no canto direito da sala. As pessoas vêm e vão a todo momento. Saio da sala, e deixo o prédio tranquila, calma e, ao mesmo tempo, freneticamente. A intensidade das ruas descreve meus sentidos não mais presos numa caixa de pandora. Os postes de iluminação contrastam com a neblina noturna, de modo a intensificar os feixes de luz que cortam meus tecidos. Caminho pelo desconhecido, para o desconhecido, pelo desconhecido. O vento gélido aquece meu corpo e amacia minhas veias. O vento gélido percorre a corrente sanguínea. A rua cheia. A mente cheia. A vontade vazia. Tudo se completa. Os sentidos ganham sentido no sentido oposto dos sentidos padronizados, bizarros, errados. Momento que permanece num intervalo de tempo no infinito. Apenas este momento. E nada mais.