Mãozinha Boba
Sobe. Desce. Sobe. Desce. Chega tá machucado o bilauzinho do menino. Não brigo não. Menino teve meningite ainda pequeno. Virou vegetal. Não mexe nada. Não mexia. Descobriu a carninha e agora fica só massageando. Sobe. Desce. Sobe. Desce. Tá com dezesseis. Olho bem azulzinho. Lindo. Ontem teve até gotinha. De suor. Escorrendo da testa. Limpei com o babador dele. Presente da vó. A mãozinha mal cabe no pinguelo. As vizinhas nunca viram coisa igual. Querem fazer piada. Não deixo não. Menino é vegetal. Não ouve. Não mexe. Mas sente. Quando tá bem gostoso ele treme o bracinho. Bem rápido. Chega a fazer um barulhinho engraçado. A irmãzinha acha bonito e começa a dar risadinha. Coisa de criança. Fico emocionada. Até cuequinha apertada já botamos no menino. Pedido do tio. Presente da tia. Mas ele sempre dá um jeitinho. Menino esperto. Escorrega a mãozinha tortinha por dentro. Agarra de uma vez. Chega a esmagar o cacetinho. A cabecinha fica bem vermelha. Parece um pirulito. Aí eu ajudo o pobrezinho. Sou mole. Coloco a minha mão por cima da mãozinha dele. Subo. Desço. Subo. Desço. Bem rapidinho. Vira tudo uma coisa só. Aí eu acelero mais um pouquinho. O olho vai brilhando. Só paro quando o braço dele treme sozinho. E vem um barulhinho engraçado. E o mindinho levanta. E aparece uma gota bem branquinha. Na ponta da cabecinha. E a irmãzinha acha bonito. E começa a dar risadinha. E aí eu tiro a minha mão. E começo a chorar. Baixinho. Que é pro menino não desanimar. Nem eu.
Conto escrito para a Oficina Narrativas Breves (e outras nem tanto) com o cabra Marcelino Freire. Argumento de Jorge Ribeiro (outro cara que manda muito bem).