Depois da Tempestade

A chuva caiu, lágrimas são as mais presentes e constantes. Os olhos. São pares dispersos, curiosos, distantes, questionadores. O que mais se presencia durante a chuva são olhos. Olhos que trazem gargantas sentidas, que puxam do fundo dos órgãos uma força para não gritar e apenas soltar um suspiro sentido.

Há olhos que mergulham num profundo sentimento de vazio, de não-entendimento que se tornam vagos. Olhos buscam em todos os cantos um conforto inexistente. As lágrimas cobrem olhos sinceros, dores profundas. Os soluços fazem olhos fecharem e mergulharem em azuis ocos. Há dor, há muita dor, mas ainda há os que buscam nos olhos, sorrisos. Há os que riem, e camuflam uma ferida. Sorrisos desesperados, gestos soltos, corações pulsantes. Busca.

Os olhos cheios de sal e água têm medo de fecharem. Medo de se encontrar mais de perto com este coração que dói e esta mente que se questiona. Os olhos dizem a todos os cantos que o melhor é permanecer acordado, olhando tudo o que pode ser visto para enganar uma dor que existe e que dói sem resposta. Olhos de chuva. Tempo de chuva. Tempestade. Vento perdido. Olhos que doem.

Enquanto olhos se perseguem buscando a melhor posição, a melhor visão, choros vêm do fundo da alma e saem aos socos, como pancadas no corpo. Choros sofridos que se mostram não suficientes para saciar a dor. Choros pouco intensos em movimentos e sons, mas que transbordam dor, sofrimento. Este choro é o que machuca os que não foram feridos pela perda. Este choro choca. Este choro mostra a realidade de corpos que se precisam, de almas que se completam, de um mundo injusto e inexplicável. Quando os olhos fecham e se enrugam vem acompanhados de um soluço seco que dói fisicamente no peito, que fere profundo na alma. Esta junção de movimentos, olhos e peitos, é o que marca, é o que fica. O abdômen se contrai forçando este soluço a sair, mas a dor fica.

O que é material e perene cobre o que era sentimental e vivo. O que ainda é vivo, fica, sofre, mas se conforma. Fica o tempo que cura. Fica a saudade, que não deve, mas passa. Ficam os gestos que se esquecem, mas não se acredita. Fica a presença enquanto for necessária para o conforto. Olhos aos poucos se acostumam com uma ausência que será preenchida. Aos poucos os abdomens voltam a relaxar, o sal deixa de ser tão doce e o sol volta a aparecer. Aos poucos a tempestade vai embora até que outra tome seu lugar e está dor que cicatriza volte a aparecer e o peito calejado aprenda a aceitar.

Aos poucos todo o vivo deixa de ser.

BCA (conformada)

BCA
Enviado por BCA em 25/05/2009
Código do texto: T1614048
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