O CHAVEIRO COMPROMETEDOR
Tudo começou quando Deborah, pegando em um vaso percebeu que havia algo lá dentro e surpreendeu-se ao ver que era uma chave que ela tinha certeza de que não era de sua casa e, o pior, com um chaveiro com um coração inscrito “Eu te amo”.
O que ela podia pensar diante disso?
Na casa só moravam ela e o marido e então, se não foi ela, só podia ter sido ele quem a colocara ali.
Será que o marido a estava traindo?
Nunca desconfiara dele. Achava que podia por a mão no fogo pela sua fidelidade, mas, agora tinha motivo concreto para desconfiar...
Lembrou-se do caso de amigas que só perceberam a traição quando o marido as abandonou para ir viver com a outra.
Um medo, misto de raiva, de tristeza e de tudo o mais a invadiu, mas, como o marido só chegava à casa à noite teve tempo de se recompor e resolver o que faria.
Fingiu que estava tudo bem e mesmo quando o marido percebeu-lhe a preocupação disse que não era nada, que tivera um aborrecimento com o irmão, o que era muito comum, e ele acreditou.
A partir desse dia Deborah começou a vigiar o marido, dentro de casa, para ver se o surpreendia mexendo no vaso, mas isso não aconteceu. A chave continuava lá. Pôs até uma felpinha em cima para ver se alguém mexia com ela, mas a chave com o seu comprometedor chaveiro de coração continuava na mesma posição que ela deixara com a felpinha em cima.
Observava, ainda, todos seus passos, analisava todas suas palavras, revistava bolsos e carteiras, mas, nada.
O relacionamento dos dois começou a ficar abalado. Já não tinham a mesma naturalidade, não conversavam tanto nem riam despreocupados.
Ela estava sempre apreensiva e ele preocupado com a mudança dela sem sequer imaginar o motivo.
Passou algum tempo até que um dia, conversando com Zulmira que morava na mesma rua, esta contou que perdera a chave de sua casa na rua.
Déborah não deu maior importância ao fato senão quando a mulher acrescentou:
- Foi um transtorno! Meu marido teve que vir do trabalho dele para abrir a porta, mas o que mais eu senti foi perder o meu chaveiro. Não era valioso, mas eu tinha um carinho por ele porque foi meu marido que me deu no dia em que começamos a namorar numa festa junina. Foi a sua primeira declaração de amor!
Não me perguntem quem ficou mais feliz se foi a Zulmira por recuperar o chaveiro ou a Déborah por tirar o grilo da cabeça.
Mais tarde Déborah contou tudo ao marido e os dois riram muito juntos.
- Eu encontrei na rua e, nem sei por que, coloquei dentro do vaso pensando que poderia aparecer o dono.
- E por que não me contou
- Você não estava em casa na hora e eu acabei esquecendo do incidente.
Acrescentou, brejeiro:
- Agora você fique sabendo que sou um marido fiel, sejam quais forem as evidências contra.
- Sei...!
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Este texto faz parte do VI Desafio Recantista