O Radio
Nunca esteve alheio à dor. Sempre foi o primeiro a dar boas e notícias ruins. Nunca foi imponente, pelo contrário, era máquina desajustada dentro de um caixote antigo, mas de madeira de boa qualidade.
Pela manhã, tocava música estridente que se ouvia ao longe em toda a vizinhança, chegando a mexer com o entusiasmo dos mais jovens, principalmente quando ouviam Marlene e Emilinha nos saudosos programas de auditório.
À tarde, as crianças da casa se acotelavam à sua volta para ouvir as Aventuras do Anjo e de Jerônimo, o Herói do Sertão. Ele sabia criar no coração infantil a expectativa pelo fantástico. Era um verdadeiro convite para a liberdade de pensar, de imaginar. A meninada saltitava alegremente como borboleta a mover as asas, rindo e, às vezes, até chorando.
As músicas eram ouvidas ao longe, as histórias se perdiam em suas ondas, mas ele permanecia humilde em seu espaço. Nem as novelas nem os dramalhões que as senhoras tanto gostavam de ouvir nem mesmo o "Direito de Nascer" fizeram dele uma estrela. Ele era apenas o rádio da casa, com local reservado na velha cristaleira, sempre pronto a servir os que dele necessitavam. Sabia que era estimado por todos, principalmente pelas crianças que o tratavam carinhosamente de curió de cristaleira.
A sociedade já experimetava um progresso iminente, e ele já tinha certeza de seu futuro, afinal de contas os primeiros passos de um artista se concretizam quando suas tentativas se fortalecem, e os últimos passos, bem, os últimos passos enfraquecem-se quando sua arte já não é mais aceita. O progresso chegara! A tristeza já se aprofundava, quando ele começou a informar sobre nova máquina que o substituiria em sua longa e profunda vida: a televisão. Mais sofisticada, bem mais moderna que suas frequências que se perdiam por aquele tempo tão bem vivido por ele. Na certa, perderia seu lugar na cristaleira, mas tinha a certeza de que seu coraçâo ficaria aberto ao mundo, principalmente naquela casa. Ele soube nutrir os corações infantis com histórias comoventes e sempre terá a glória de ter sido testemunha de noticiários importantes pelo mundo afora.
Seus dias foram de felicidade e a glória maior de ter conseguido a vitória de perpetuar-se nas histórias das crianças que amanhã se tornariam adultos responsáveis, carregando as lembranças mais puras em seus corações, principalmente a do curió de cristaleira, mesmo que a vaidade os transforme em criaturas distantes da simplicidade e da humildade em que viveram.
Nunca esteve alheio à dor. Sempre foi o primeiro a dar boas e notícias ruins. Nunca foi imponente, pelo contrário, era máquina desajustada dentro de um caixote antigo, mas de madeira de boa qualidade.
Pela manhã, tocava música estridente que se ouvia ao longe em toda a vizinhança, chegando a mexer com o entusiasmo dos mais jovens, principalmente quando ouviam Marlene e Emilinha nos saudosos programas de auditório.
À tarde, as crianças da casa se acotelavam à sua volta para ouvir as Aventuras do Anjo e de Jerônimo, o Herói do Sertão. Ele sabia criar no coração infantil a expectativa pelo fantástico. Era um verdadeiro convite para a liberdade de pensar, de imaginar. A meninada saltitava alegremente como borboleta a mover as asas, rindo e, às vezes, até chorando.
As músicas eram ouvidas ao longe, as histórias se perdiam em suas ondas, mas ele permanecia humilde em seu espaço. Nem as novelas nem os dramalhões que as senhoras tanto gostavam de ouvir nem mesmo o "Direito de Nascer" fizeram dele uma estrela. Ele era apenas o rádio da casa, com local reservado na velha cristaleira, sempre pronto a servir os que dele necessitavam. Sabia que era estimado por todos, principalmente pelas crianças que o tratavam carinhosamente de curió de cristaleira.
A sociedade já experimetava um progresso iminente, e ele já tinha certeza de seu futuro, afinal de contas os primeiros passos de um artista se concretizam quando suas tentativas se fortalecem, e os últimos passos, bem, os últimos passos enfraquecem-se quando sua arte já não é mais aceita. O progresso chegara! A tristeza já se aprofundava, quando ele começou a informar sobre nova máquina que o substituiria em sua longa e profunda vida: a televisão. Mais sofisticada, bem mais moderna que suas frequências que se perdiam por aquele tempo tão bem vivido por ele. Na certa, perderia seu lugar na cristaleira, mas tinha a certeza de que seu coraçâo ficaria aberto ao mundo, principalmente naquela casa. Ele soube nutrir os corações infantis com histórias comoventes e sempre terá a glória de ter sido testemunha de noticiários importantes pelo mundo afora.
Seus dias foram de felicidade e a glória maior de ter conseguido a vitória de perpetuar-se nas histórias das crianças que amanhã se tornariam adultos responsáveis, carregando as lembranças mais puras em seus corações, principalmente a do curió de cristaleira, mesmo que a vaidade os transforme em criaturas distantes da simplicidade e da humildade em que viveram.