Boca Suja
Cheirei o que não devia. Trepei com quem nem sorria. E tu vem com moral pra cima de mim? Esse corpinho não foi feito pra ideia de pivete. Sai pra lá, porra. Já mandei tirar esse troço da cabeça. Que arrepio o quê? Medo de rato não é medo de homem. O cacete que eu entendo! Esqueceu quem abriu a porta? Pena, seu coitado, foi pena, sim! Vai virar macho e enxugar esse choro de menina. Conheço tua cara e não é de foto pequena. Pacote vida de merda. Mulher e cachorro e filha com nome de artista. Vira a mão pra ver, vira! Rasgo teu peito homem! Toma a tua calça. Vaza. Problema meu? Vai reclamar com quem te colocou no mundo e escondeu a teta. Que bons tempos? Quero mais é que a chuva te leve e o esgoto engasgue. Consideração uma porra. Tira esse olhar de coitado porque teu papo tá na minha. Cansei não é de hoje. Mas tu quis ser esperto e tentar e forçar e rodou. Perdeu a carne. E olha que tem um morro querendo chupar cada ossinho. Mas ninguém se mete a malandro não! Foi ser esperto. Vai pagar em dobro o cacete! Sorte tua não sair daqui embaixo de porrada. Tu sabe que tem homem de sobra pra arrancar teu coro, não sabe? O lance é protegido, coisa de ética e o cacete. A gente faz voz de santa e dá risadinha e rebola rapidinho e grita bem doida e até fala que ama. Firmeza, cada uma sabe a necessidade que vinga. Agora, beijinho na boca? Tu tá achando que eu sou o quê?
Conto escrito para a Oficina Narrativas Breves (e outras nem tanto) com o cabra Marcelino Freire. A única exigência era começar o texto com a ótima frase "Cherei o que não devia", do autor Vinícius Mattar, colega de oficina.