Encarcerada pela liberdade...
Veste-se apressadamente.
Entre aquele misto de ansiedade e aflição, nada faz muito sentido, são confusos os sentimentos, as idéias embotadas...
Como entender? Como se assegurar de que aquela seria última vez?De fato, quem asseguraria?
Havia alguns anos desde a primeira vez, foram sucessivas repetições, no entanto a mesma sensação a cada repetido acontecimento.
Quando duvidosa, mas imbuída de coragem aceitara aquela proposta e não previra, sequer supunha que para sempre estaria presa, prisioneira da própria decisão.
Sua alma sangrava, vivia sob a égide da humilhação, cedera o lugar da alegria para tristeza, desconforto, falta de decência, constrangimento, as noites inteiras sem dormir açoitada por tremores, suores e pesadelos, tudo por uma troca, que lhe livrara da prisão. Mas e agora, não seria mais prisioneira do que as detentas daquela carceragem feminina de onde escapara?E a pena, a sua parecia infindável. Nunca terminaria?
Enquanto recolhia seus pertences espalhados naquele funesto lugar, sentia-se aviltada em seus direitos. Nunca se alforriaria?
Sai como que desesperada. Pelas vielas escuras tem medo...
Trôpega, ao dobrar a primeira esquina tudo se repete: as náuseas insuportáveis, tonteiras e um jorro repentino. É sempre assim. Tentando colocar para fora o asco que sente de si mesma. Cambaleante com a vista nublada, olhos embaçados chama um táxi. Chega em casa, as crianças alegres gritam: “ Mãe, chegou a minha mãe!” Em pranto habitual nada responde, corre ao banheiro e ao banhar-se pretende lavar o que a água jamais lavará: Sua vergonha, vexação, sofrimento, medo... Tudo que vive e que avilta sua dignidade.
Ainda molhada envolta apenas na toalha, tomada de um convulsivo pranto, molhada das lágrimas que não cessam, vai à cozinha. O armário...
Abre.
Lá avista o que suponha ser a sua única redenção...
As crianças, mudas a acompanham, lançando olhares entre inocentes e indagadores...
Tamanha desonra não permitiu sequer uma carta.
Indagações restam apenas indagações...