BRIGA DE IRMÃS 1/14

BRIGA DE IRMÃS

VIRGULA 9

Nem sempre as irmãs "fala-juntas" saiam juntas, Das Graças cultivava algumas amizades que não agradavam a Das Maria, quando ela ia para a rua cultivar essas amizades, a outra preferia ficar em casa brincando com Gema e De Fátima. Onofre de Lima e Das Dores vêem as suas filhas crescendo e já na infância, forma-se a personalidade de cada uma. As longas horas daqueles dias pachorrentos e azuis eram de quando em vez quebrados por algum redemoinho afoito, levando aos céus, uma nuvem vermelha de poeiras, caprichosamente talhadas em forma de cones, até encontrar ralas nuvens que lhes faziam contrafortes. Não raro deixava-se de ouvir o silêncio tímido, quebrado pelo tropel dos animais cujas manadas cruzavam céleres as ruas pacatas da cidade, ou pelo som estridente do serviço de alto-falantes, comunicação imprescindível e de utilidade pública relevante. O romantismo só era quebrado pelas legendas PSD e UDN, colocando a população em polvorosa, pois muitas vezes compadres e comadres se viam em lados opostos, mas faz parte.

Gema incansável na limpeza da casa acaba de passar escovão no piso vermelho da casa deixando-o lindo e brilhante, refletindo os móveis e utensílios como se fosse um espelho. Das Graças adentra correndo com os pés sujos de poeira, marcando o chão com o contorno do mesmo, pois estava descalça.

-Menina limpa os pés antes de entrar, grita-lhe a irmã.

-Que nada, tem de sujar para a escrava limpar. Corre para o quintal onde as outras irmãs estão brincando.

Após limpar os rastos que os pés sujos da irmã gordinha deixa, ela vai também brincar. O local preferido para as gazetices da época era um antigo chiqueiro desativado. Não se incomodam com os constantes bichos-do-pé e suas coceiras gostosas que em tal ambiente cultivavam. Cada uma no seu canto, sobre as sombras refrescantes da jaqueira. Aqui era uma casinha, ali outra, as bonecas com rosto de porcelana de tez levemente rosada, repousa em berços improvisados em telhas coloniais de barro branco, realçando um bonito quadro com seus vestidinhos multi coloridos. Das Graças resolve insultar Das Maria, chutando o espaço da casinha dela, vai até onde estava Gema, pega a sua boneca e sai correndo pelo quintal.

- Paííí, vem dar um jeito na Das Graças. Como o Sr. Onofre estava na oficina, longe, nem ouviu. A menina continua correndo, rindo, provocando as outras. Gema começa a correr atrás dela, assustada

ela desvia o olhar tentando ver os movimentos da irmã, tropeça e caí, soltando a boneca que é pega pela irmã, voltando para o chiqueiro para continuar a brincadeira. Das Graças chorando vai para dentro, onde os arranhões da queda são medicados pela mãe que nem preocupou pelas insignificâncias dos mesmos.

- Onofre, vai lá no quintal e veja o que é que as meninas estão fazendo. Uma já chegou aqui machucada. O pai foi até lá, encostou-se à cerca, ficou olhando as filhas a brincar. Só não viu Das Graças, que estava escondida debaixo de um pé de romã, cuja presença era encoberta por uma moita de erva-cidreira. Ficou por ali um bom par de tempo preparando um cigarro de palha onde dá boa baforada, tragando-a como fumante inveterado. Acabando o cigarro foi calmamente para dentro,

Aproxima-se o horário do almoço, Das Dores após amamentar o Leo, grita chamando as filhas.

- Geeema, venham todas para dentro arrumar. Nisso Das Graças sai detrás da moita de erva cidreira com um pedaço de telha na mão, corre até o chiqueiro, traiçoeiramente, bate na cabeça da Gema com o pedaço de telha que nem mais lembrava do entrevero anterior, tão destraida estar com sua casinha.

-Aí mãe, aí mãe, Aíaíaí. Gritando mais de escândalo do que de dor, Gema vai para dentro de casa com a testa toda ensangüentada, Das Graças com sempre corre para a rua. Dona Das Dores ao ver o sangue abundante, faz de tudo para estanca-lo, usa uma fralda do Leo, e grita:

-Socorro Onofre, socorro Onofre, leva a menina paro o Dr. Dione, depressa se não minha filha vai morrer. Corre Onofre.

Chegando no consultório do médico, ele observa que junto do sangue corre um líquido preto. Faz a limpeza e a sutura. Após verificar que a menina estava bem a dispensa dizendo:

- Vai brincar. Completando:

- Onofre, fala para Dona Das Dores não fazer mais isso, para estancar o sangue ela usou borra de café, pode dar uma infecção, tétano, ou outra complicação. Fala para ela vir aqui, quero orienta-la.

Goiânia 08 de outubro de 2008.

jurinha caldas
Enviado por jurinha caldas em 18/05/2009
Reeditado em 18/05/2009
Código do texto: T1600064
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