COM O SANTO

Alcina explicou à nova empregada. Se o marido chegasse, ela deveria bater na porta da casa vizinha e avisar, para o Santo sair correndo. A patroa não poderia ser pega em flagrante. O marido não deveria saber do seu envolvimento com o Santo. Se soubesse, ai... não é bom nem pensar na tragédia.

Certo dia, assim que o Santo chegou, a empregada ficou vigiando, mas por azar, o marido voltou mais cedo do escritório. Ao vê-lo subindo a rua, a empregada, mais do que depressa, correu para avisar Alcina. Bateu na porta. Um rapaz bronzeado, corpo malhado, nu da cintura pra cima e fumando um charuto, abriu. Antes que ela dissesse alguma coisa, ele convidou:

- Vem cá...

E agarrou firmemente o seu pulso e arrastou-a pra dentro, fechando estrondosamente a porta. A mocinha entrou em pânico. O som de uma música estranha abafou os seus gritos.

Ela foi empurrada para uma outra sala, onde havia no chão o desenho de um estranho objeto. No momento em que tentou fugir, foi agarrada novamente. O rapaz de corpo malhado friccionou a sua cabeça violentamente, a ponto de causar-lhe dores. E com voz excessivamente rouca, tornou a dizer, arrastando-a:

- Vem cá...

Num canto escuro, estava Alcina, de cócoras, mão na cabeça de uma mulher e falando embolado, ao mesmo tempo em que um cachimbo pendia de seus lábios. Havia também um negro sentado num tamborete, todo de branco. Ele se levantou. E de repente surgiu do nada uma caixa de fósforos na mão do negro. Rindo como se estivesse possesso, ele pegou um palito e mirou-o, tomado por um estranho prazer. E dando gargalhadas e bebendo cachaça na própria garrafa, berrou:

- Saaaaaiiiiiiiii

Após isso, riscou o fósforo e jogou no desenho feito com pólvora. Houve um estrondo, uma explosão. A fumaça subiu pelos ares. Gritos horripilantes, misturados com o som dos tambores, invadiram o ambiente. E na pouca luz proporcionada pelas velas, pessoas giravam e caíam se contorcendo, enquanto mãos frenéticas castigavam mais e mais os tambores. A empregada, apavorada, conseguiu escapar, avançar pela porta e ganhar a rua.

Anos depois, já casada, contando às amigas essa história, uma delas ingenuamente, perguntou:

- Mas fala pra gente, Alcina continuou lá dentro?

- Como é que vou saber? Depois do estrondo, eu fui a primeira a sair correndo da macumba!