E DEPOIS?
Personagens: Karen, Márcia, Júlio, Carlos, Flávia e Ana.
Espaço dramático: Sala de estar de uma casa de classe média baixa.
(Encontra-se na sala de estar o padrasto Carlos diante da TV, o filho (enteado) Júlio e ao telefone, a irmã do rapaz, Karen, esperando ansiosa para falar após a ligação de Júlio – A mãe Márcia está fora de visão em outro cômodo da casa).
Karen – Mãe! Dá pra pedir ao Júlio para largar o telefone?! Tenho que ligar pra Flavinha. (Júlio empurra ela de leve e faz cara de aborrecido).
Márcia – (fala inda da cozinha) Filho, para de ficar horas nesse telefone, dá uma chance para os outros. Vai filho, acaba logo...
Karen – Júlio, eu quero ligar.
Júlio – (fala para a pessoa ao telefone) Dá um tempinho só.... (fala com a irmã) Dá pra parar de ser chata! Ficou a tarde toda em casa e agora cisma de ligar, que saco...
Karen – Eu tenho que ligar para a Flávia, ela vem me pegar com a mãe dela...
Júlio – (não dá atenção a irmão e volta ao telefone) Desculpa, é a chata da minha irmã. (e começa a sussurrar ao telefone como se a conversa tivesse íntima e interessante).
Karen – (para Carlos, que até agora está observando e achando anormal o comportamento de Júlio) Você ta vendo, né? Depois sou eu que fico pendurada ao telefone e gastando pulsos... (Carlos só olha de lado).
Márcia – (chegando à sala) Júlio, sai desse telefone, filho, deixa sua irmã ligar.
Júlio – Ah! Dá um tempo mãe... é frescura dela, daqui a pouco a coleguinha ta ai com a mamãe pra pegar ela.
Carlos – Rapaz... são maneiras de falar com sua mãe? Precisa ter mais respeito, jamais falei desse jeito com minha mãe. Ainda hoje se eu destrato ela, levo uns tapas...
Márcia – Deixa Carlos, qualquer dia desses ele vai ver do que eu sou capaz. (Fala enérgica) Júlio, desliga isso agora!
Júlio – (ao telefone) Pô cara, depois eu te ligo, vou resolver um lance aqui. (bate o telefone) Que saco, não vejo a hora de... (faz um sinal de explosão no ar, como se quisesse sumir, e sai da sala. Enquanto Karen vai para o telefone, Maria e Carlos conversam no 1º plano).
Carlos – Márcia, é preciso dar limites para esse garoto, não acho certo o jeito que ele fala com vocês. Viu a forma como ele saiu daqui? Não é a primeira vez, ele ta abusando da liberdade que tem...
Márcia – Sei disso, mas é preciso ter paciência, ele está passando por um momento difícil, ainda mais depois que o pai dele resolveu ficar mais tempo no sul... Essa idade é complicada.
Carlos – Mas pode ficar pior, você vai acabar perdendo o controle.
(Karen interrompe, ainda com o telefone na mão)
Karen - Mãe, que horas a gente pode chegar?
Márcia – Já combinamos! Esqueceu?!
Karen – O irmão da Flávia nos pegar, a gente pode ficar até umas duas horas? Pode mãe?...
(Márcia olha para Carlos que faz uma cara que não acha legal, mas ela permite)
Márcia – Mas não passa disso, hein filha, nem mais um minuto, senão nunca mais tem conversa...
(Karen volta a falar empolgada ao telefone)
Carlos – É disso que eu falo, Márcia, você está sempre abrindo a guarda, tem de dar limites, eles fazem o que querem com você...
Márcia – Ih! O arroz... (corre para a cozinha – Júlio entra na sala e senta-se próximo a Carlos)
Júlio – (Fala com Carlos) Você vai ficar em casa com a mamãe, hoje?
Carlos – Acho que sim. Ela não quis ir ao cinema... e você, vai sair?
Júlio – Hoje tem chopada... é a vez do Guto pagar pra todo mundo. O time dele perdeu.
Carlos – De onde vocês tiram dinheiro para fazerem tantas festas?
Júlio – Não é festa, não. Hoje é promoção de “cerva” no estacionamento do mercado... A gente calibra o máximo que pode e depois sai por aí.
Carlos – Hoje é domingo, você já se organizou para a semana? Deu uma estudada?
Júlio – Que isso cara, uma coisa de cada vez, um dia após o outro.
(entra Márcia)
Márcia – Júlio, meu filho, tem uma blusa sua na máquina de lavar, toda suja. Você passou mal? Aconteceu alguma coisa?
Júlio – Nada mãe, ontem foi sábado, a gente bebeu demais. Sabe como é, né? (sorri) Fui dormir e esqueci ela jogada por lá...
(Karen desliga o telefone e vai tomar banho)
Karen – Mãe, se a Flávia chegar, diz que já venho.
Márcia – Ta bom.
Júlio – Carlos, quanto ta valendo o seu carro?
Carlos – Por que? Vai comprar? (sorri)
Júlio – Nada, é ruim hein... Por falar nisso, quando é que você vai liberar ele pra mim? (Márcia olha reprimindo)
Carlos – Você não tem idade para isso, rapaz. E a sua moto, já encontraram?
Júlio – Não. (...) Um amigo meu acha que a viu na praça com um moleque, mas não tem certeza se era a minha.
Carlos – Deixa a polícia resolver essa história....
(toca a campainha e Carlos vai atender)
Carlos – Olá, Tudo bem?! (Cumprimenta Flávia e sua amiga Ana)
Flávia – Oi seu Carlos... Oi Júlio. Tudo bem?
(Márcia chega na sala para recebê-las)
Márcia – Oi, Flavinha. Oi Aninha. (beijam-se) Entrem, esperem um pouquinho que a Karen já vem, estava tomando banho, mas já deve está quase pronta. (Chama a filha gritando) Karen, a Flávia está aqui. Anda!
Karen – (de fora de cena) Já to indo!
Ana – A senhora pode me dar um copo d’agua?
Márcia – Claro meu amor, espera um pouquinho...
Carlos – (para as duas) Quer dizer que vocês vão chegar mais tarde hoje? (brincando)
Flávia – É, meu pai vai encontrar com a namorada, então meu irmão vai pegar a gente. Só que ele tinha marcado uma reunião com uns colegas dele mais cedo... É aqui por perto mesmo, se eu não me engano é no estacionamento do mercado (Júlio olha para as duas e sorri ironicamente). Hoje vai ter um monte de amigos dele com carro pra dar carona pra gente.
(Entra Márcia)
Márcia – A sua água da fonte. (sorri) Brincadeira...
Júlio – Vou sair, mãe. Vou voltar tarde. (Vai até o quarto e sai pela cena)
Carlos – (chamando Márcia no canto) Você conhece o irmão dessa menina? O rapaz que vai pegá-las mais tarde?
Márcia – Não. Mas a família dela é formada de pessoas maravilhosas. Porque?
(Entra Karen)
Ana – Oi amiga, ta montada, hein...
Flávia – Verdade.
(Karen faz uma pose de chic)
Karen – Mãe a gente já vai.
Carlos – Karen, deixa eu falar uma coisa com você. (no canto da cena) Vou te dar cinqüenta reais de emergência, se vocês acharem que os rapazes estão demorando ou se aparecerem por lá mais calibrados que o normal, quero que peguem um táxi. Ta bom?!
Karen – Ta bom!
Carlos – Vou pegar o dinheiro e já volto. (Carlos vai ao quarto pegar o dinheiro)
Márcia – Hoje é aniversário de alguém? O que vai ter lá no shopping?
(Carlos entra na sala muito confuso)
Carlos – Márcia, você mexeu na minha carteira? Todo o dinheiro que havia pego no banco 24 horas desapareceu...
(A cena é congelada e acontece um Black out)
FIM