UMA SURPRESA

UMA SURPRESA

Era uma manhã de sol fraco e sem brilho. As nuvens carregadas anunciavam a chegada de mais um dia de chuva. Ninguém agüentava mais tanta chuva, principalmente eu, que há dias não saia de casa. Acordei cedo como de costume e fiquei durante alguns segundos ouvindo um cantarolar de um pássaro não muito longe de meu quarto. O bom da zona rural é isso. Você passa a ter um contato mais próximo da natureza e quem sabe respeitá-la um pouco mais. Se bem que há muito o homem não vem se preocupando com isso. Sem amor e respeito, acaba destruindo seu bem mais precioso; sua moradia.

Mas o que tenho eu com isso? Sei que pode ser até egoísmo, mas hoje, não estou nem ai pra essas coisas. Não posso negar a minha apreensão neste dia de chuva. O fato é que eu durante toda a noite, vez por outra acordei pensando naquele recado deixado no meu orkut. Era estranho que aquela pessoa que nunca nem se quer me olhou, deixasse um recado daquele tipo. Mas enfim, eu li e respondi sem nenhuma má intenção (eu juro!) o recado deixado. Surpreendi-me mais ainda quando a resposta veio de imediato. Por que essa pessoa pediria meu endereço eletrônico? O que queria comigo? Seria alguma coisa relacionada a trabalho? Não, não seria. E nem vou dizer no que comecei a pensar.

Tinha um mundo de coisas pra fazer naquela manhã. Havia combinado com essa pessoa de conversarmos on-line. Precisava saber o que queria comigo. Por que tinha que ser via net? Era realmente muito estranho. Devia ser algo muito sério e comecei a ficar com medo. Pois é, minha apreensão transformou-se num medo enorme. O problema é que quando estou assim, não consigo raciocinar.

Mas fui e fui cedo pra net. Abri meu e-mail, respondi aos que estavam pendentes e depois abri a página de meu orkut. Teria algum recado especial? Fiquei ainda mais com meus nervos a flor da pele enquanto digitava a senha de acesso. E tinha. Não posso negar meu espanto. Os recados eram deixados na página dos depoimentos. Era um sinal de somente eu poderia ler. Nunca gostei muito dessas coisas de orkut, acho uma bobagem. Mas uso mesmo assim, meus amigos sempre deixam recados lá. Esses recados eram diferentes. Marquei as oito e já passava das oito e trinta quando chegou. Na lan house estava eu e mais uma duas pessoas. Sentei-me no primeiro computador e o tempo todo olhava pra porta esperando sua chegada. E estremeci quando ouvi seus passos pela sala. Sentou-se na outra ponta extrema ocupando o último dos computadores. Era estranho. Estava tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Preferi não olhar e continuei na minha. Talvez desistisse e fosse embora. Eu tinha certeza de suas intenções. Estava escrito em seus olhos. E eu quase nunca me engano. Olhamos igual, um nos olhos do outro, antes de começarmos a tecer. Máquinas nos separavam. Permaneci assim durante alguns longos segundos, não me entendia, sentia algo estranho e meu coração parecia palpitar mais forte. Não sei explicar por que. Não quero.

Recebi o convite no MSN e aceitei de imediato. Se tinha que resolver aquela parada que fosse logo. A conversa começou tímida, principalmente de minha parte. Disse-me que não sabia por onde começar. Ora pelo começo. Pedi explicação pelos recados e recebi a informação de que há dias me vigiava. Por quê? Perguntei de ímpeto já imaginando a resposta. Ela veio limpa e seca. Pensava em mim direto, me desejava nos mais ardentes dos desejos e me queria. Juro que no momento pensei em desligar tudo e sair dali. Mas não sei explicar por que eu estava gostando de tudo aquilo. Não lhe neguei a minha surpresa e espanto. Disse-me que já esperava por isso.

Conversei durante quase duas horas. A conversa tornou-se quente e prazerosa. Era legal saber que alguém sentia desejos tão pueris por mim. Saber que alguém se masturbava pensando em mim. E a excitação tomou conta de nós dois. Me soltei e me revelei como nunca havia feito com ninguém. A cada revelação me surpreendia ainda mais. Como alguém pode ser tão discreto e tão indomável em seus desejos? Acho que no fundo todo mundo tem esses dois lados. Às vezes trocava olhadas rápidas, não queria que alguém desconfiasse de nada. Combinei uma conversa pessoalmente naquela mesma manhã.

Foi meio sem graça. A timidez fez com que durante alguns segundos o silêncio tomasse de conta dos dois. Era estranho, parece que pessoalmente a coisa havia perdido a graça. Aos poucos fui me libertando da timidez e pude ver que tudo podia sim dar certo. Aos olhos da sociedade apenas uma simples amizade. Entre quatro paredes dois amantes sagazes no amor e no prazer. Nunca havia pensado nisso, jamais esperei que um dia isso pudesse acontecer. Mas aconteceu. Na noite seguinte. No quarto de um simples e barato motel, mas que teve pra mim grande significado. Foi uma linda noite de amor. Saciamos os nossos desejos como dois animais ferozes nas veredas do amor e do prazer. Aliás, nunca ninguém me deu tanto prazer na cama. Ficamos minutos em silêncio na cama, um do lado outro, deliciados pelo prazer do gozo. Eu não me reconhecia diante daquela loucura. Uma loucura que me deu prazer, satisfação, desejo de repetir. Como explicar tudo?

Nunca procurei ou talvez nunca quisesse explicar. Fui sua professora há cerca de dois anos e até ali só o enxergava como um simples ex-aluno, pois nem amigos de fato, éramos. Sei que hoje o vejo como homem, não como o homem da minha vida, mas como homem da minha cama, dos meus desejos mais sagazes. Transamos sempre, no mais absoluto segredo. Acho que nunca ninguém soube de nós. Talvez, desconfiem. Não me preocupo com isso. Sou feliz? Não sei, não posso dizer tanto, por que até hoje não consegui entender o significado de “felicidade”. Talvez seja isso que vivo. Me sentir bem.

Acho que todo mundo deveria ser assim. As mulheres, principalmente. A vida seria bem menos complicada. Ou não seria? Vivo assim, não sei se é o certo, sei que vivo...

FIM.

JCRedson
Enviado por JCRedson em 12/05/2009
Código do texto: T1589483