A CONSISTÊNCIA DA INSISTÊNCIA
Nesta tarde pude ver um violino feito de sal e sol, a beira do rio, ouvi os músicos em seu estado sólido, critico e absortos, suas faces beirando ao caos, suas roupas folia de reis, seus sapatos eram circense, tinham a aura perdida num tempo de outrora, as músicas tocavam meu coração, na brisa que caia no caír de uma tarde nua e cinzenta, de olhares tristes, mas, aventureiros, todos estavam ávidos, e queriam mais:
A conversa era sobre a próxima apresentação, ficaram sentados sobre suas próprias pernas a bebericar, uns e outros goles de gim, distante o olhar dos gaviões, sobre suas cabeças chapéu de palha, na mão direita José tinha um isqueiro prata, na mão direita seu relógio marcada 16h23min, já se fazia tarde naqueles corações que amanheceram ali, por dias e dias de luta, por dias macios, por perto um cão de guarda, mais adiante, um pombo correio beliscava um milho transgênico.
A lua já aparecia no céu, um fotografo e um índio conversavam sobre caça e pesca, os raios ultra-violeta batia na placa metálica que oficializava a carroça e o carroçeiro a transitar pela cidade dos reis de plástico e blusa de garrafa pet, numa esquina lúcida a base de batida de maracujá, a lua permanecia no mesmo tom, usava a face esquerda para mostrar-me que gosta da noite, enquanto os cachorros vira-latas já se faziam presente em meu dia-de-noite.
Hoje já tinha morcego, rolinhas que acordavam e migravam para outro ponto da cidade, ali estava confuso, no muro azul estava escrito a propaganda do futuro, sobre todas as coisas do universo, a lata de lixo vazia, o caminhão de lixo no lixo e a cidade imaculada estava suja de homens, cores e animais, assim foi aquele dia os músicos com seus violinos de sol e sal passeando na orla dois do rio paraíba do sul, que nasce na serra da bocaína e desemboca na praia de atafona, mais mora no meu coração, com água, com peixe, plástico, mato, sujeira, mercúrio, ouro, areia, barco, solução, solidão, e, arvores.
E a menina de saia justa cobria o rosto, mas, seus pais estavam em casa tomando café e bebendo água fresca de morringa, e os músicos agora descansam.
Moisés Cklein.