"E SE O MESTRE MANDAR? FAZ!"
O fato aconteceu numa cidade portuária do Nordeste, no escritório de um cais. O chefe, um desses que pega no pé de subordinados, vendo a secretária, linda e maravilhosa, ali, sem muito o que fazer, lendo bobagens no celular e lixando as unhas (se fosse velha, estaria fazendo tricô), resolveu dar serviço para a candidata a top model. Chamou-a, acenando:
- Dona Madalena, venha cá, minha bichinha!
Claro que a funcionária ensaiou os passos antes de se levantar, olhou-o bem dentro dos olhos, colocou nos lábios um sorriso adorável e foi andando, se desviando elegantemente dos móveis.
Claro que o chefe não perdeu nenhum desses lances. Não desgrudava os olhos da guria nem que padim-pade-ciço estivesse ali. E lá ia ela se movendo como uma pluma, quase deslizando pela sala. E o danado de olho em cima.
- Dona Madalena, minha bichinha, tá vendo aquela pilha de saco ali, pra ensacar coco que vai pra Sumpaulo?
Ela assentiu, entreabrindo os lábios, onde colocou sugestivamente a caneta entre os dentes.
- Dona Madalena, minha bichinha, (não sei porque ele a chamava de “minha bichinha” se a tratava por “dona”) vá acolá e conte pra mim com quantos fios de barbante se faz um saco.
Mais uma vez a bichinha olhou-o bem dentro dos olhos. Desta vez sentiu um desejo imenso de contratar um pistoleiro para acabar com aquele cabeçudo, mas se conteve. Não disse nadica de nada. Fez novamente aquele sorriso adorável e foi lá contar.