O REBOLADO DE MANUELA!
(O MUNDO DÁ VOLTAS...)
Manuela se achava a rainha do pedaço. Era, de fato, muito bonita, um corpo de dar inveja às outras moças do bairro e que deixava os homens de cabelos em pé. Ela fazia questão de comprar o pãozinho naquela hora em que todos estavam reunidos lá na padaria para tomarem sua cervejinha, jogarem sinuca e azararem as moças que passavam. Manuela não tinha amigas. Achava-as todas inferiores a ela; e feias. E ela, bonita assim, não andaria com mulher feia. Isto poderia manchar a sua imagem!
Manuela, tinhosa que só, chegava, rebolando aquela bunda desejada por dez entre dez homens da vizinhança, um rebolado de tirar o fôlego de qualquer um e que deixava a mulherada com uma inveja de doer. Tinham vontade de matá-la, principalmente as casadas.
- Maldita, rebolando aquela bunda como se fosse a sua carteira de identidade – diziam! Ah! Se pego meu marido olhando pra ela, eu lhe arrebento! Mas todos olhavam, quando Manuela passava, rebolando aquela bunda imensa que parecia pensar!
Ela, toda dengosa e provocativa, debruçava-se sobre o balcão da padaria, deixando a calcinha minúscula à mostra e dizia, toda melosa:
- Seu Joaquim... Minha mãe quer dez “pãozinhos”. É pra anotar na caderneta. E deixava à mostra as pernas morenas e bem torneadas.
A Manuela era assim – os homens a adoravam e as mulheres a odiavam. Ela não estava nem aí. Continuava a rebolar o traseiro, jogando a cabeça para trás, balançando aquela cabeleira negra, recém alisada a chapinha com creme. Os homens enlouqueciam.
Manuela só se ligava no Paulão. Achava-o um príncipe, sonhava com o dia em que ele a levaria ao altar. Ele sim era o seu sonho de consumo. Lindo, bem vestido, rico. Ele aparecia de vez em quando no bairro, pois era diferente daqueles “pés rapados que ficavam ralando o bucho” naquele balcão de padaria, o dia inteiro.
Mas Paulão não! Imagine se ele era de se dar a esses programas pobres! Ele sempre vinha com um carro diferente e Manuela suspirava de paixão! Iam para o Motel de sempre e ela se acabava de tanto se dar. Era tanta paixão que nem se importava com as horas voando, sem que sua mãe tivesse conhecimento de seu paradeiro.
E, quando ela ia argumentar com a filha, ela respondia: - Mãe, sou bonita e gostosa, não preciso me preocupar com estudos, pois vou me casar com o Paulão e ser dondoca. Quero ir ao Shopping todos os dias e comprar o que eu quiser. Tudo que eu nunca tive, a senhora vai ver!
Certo dia, exausta, após uma tarde inteira no Motel, chegou em casa, botou um pijama confortável, pegou um pote de sorvete de creme e sentou-se diante da TV – sonhando, como sempre. Emudeceu, de repente, com a noticia que ouviu. Aumentou o som. Era ele, Paulão. Tentava esconder o rosto, mas ela o reconheceu. Afinal, ele havia acabado de deixá-la na porta de sua casa, beijando-a longamente e fazendo promessas de voltar na próxima semana. Algemado! Sim, Paulão estava algemado e sendo conduzido por dois policiais, vestidos com coletes da Policia Federal. Manuela ficou muda. O pote de sorvete caiu de suas mãos.
Paulão – esse não era o seu nome, naturalmente – era procurado em todo o País e até fora dele, por roubo, assalto a Bancos, receptação e formação de quadrilha. E suspeita de assassinato. Sua ficha criminal era muito maior do que os sonhos de Manuela!
Moral da história:
Mais vale uma cabeça pensante do que uma bunda rebolante!