- Vou te dar uma bengala no Dia das Mães.

- O quê? Não uso. Prefiro nem sair de casa.

O diálogo antecedia em dez dias o Dia das Mães .

- Com a bengala você não precisa sair se segurando nas pessoas, nem nas paredes. Bengala não é indignidade; é apoio, segurança.

- Não aceito, e chega!



- Olha só como você fica se apoiando nas cadeiras . Em pleno restaurante! Que vergonha! Se estivesse com uma bengala bonita, seria puro charme, mas fica com esse orgulho metido a besta...



- Cala essa boca, senão nem vou almoçar. Volto pra casa, faço um arroz e frito um ovo. Pára de me encher a paciência com esse troço de bengala!



E a bengala foi comprada lá no Shopping.



No Dia das Mães saindo para o almoço num restaurante:

- Que bem-estar a bengala me traz. Tô saindo tranqüila, sem medo nenhum. E só treinei dois dias!

- Eu não disse? Só continue tendo cuidado com os buracos das calçadas.



À tarde, se preparando para visitar uma amiga no mesmo edifício onde mora, pega a bengala e se encaminha para a porta.

- Pra que bengala?

- É mesmo. Nem vou sair, né?





Na sala de jantar, entre vasos de cristais, candelabros, cristaleiras antigas, ao lado de um grande vaso de flores, está ela, enfeitando o ambiente em suas horas vagas.