O nada da Incerteza - Micro conto

“Se você morresse agora, com qual sentimento deixaria este mundo?”

E foi com essa pergunta que a Menina descansou pela primeira vez.

Ela caminhava em direção a Cidade Alta. Portava uma pasta com seus livros e um caderno velho, já rabiscado.

Tranqüila pela rua escura, agitada com carros que iam e vinham, lá longe ela avistava bicicletas vindo depressa.

Garotos praguejavam entre si. “Seu desgraçado, não viu ele contornando a esquina?” A dupla de mais atrás cuspiam em demasia um: “ Pedala depressa, estão atrás de nós”. Ela sem saber e ainda pensando em um “nada” continuou seu trajeto. Em questão de segundos ela vê em câmera lenta uma bala de revolver vindo em sua direção. Pôde sentir a pólvora em sua boca, mas o que a matava naquele instante era o calor de uma bala perdida, que sem entender se estava no lugar e hora errada, ela volta àquela pergunta que tanto tirou seu sono na noite passada.

_ Com certeza morrerei com um sentimento de não ter cumprido o que talvez vim fazer aqui neste lugar.

Mas a questão maior era saber qual era a sua missão e por que ter terminado daquela forma, afinal, aqueles tiros não foram para ela, não mesmo.

Um filme gigante era passado em retrocesso em sua mente e ela entrava em coma.

Foi levada em estado de choque para o hospital com insuficiência cardíaca e hemorragia interna. Para falar a verdade ela estava mais morta que viva.

Se você morresse agora, leitor, com qual sentimento deixaria esse mundo? EU estou te perguntando agora.

Aquela Menina lá, ainda se contorcia por dentro, tentando ser sincera àquela questão e ainda quase morta, algo dentro dela saciava por uma resposta. Ela chegou a acreditar que tal resposta a salvasse, foi ai que ela reagiu ao choque elétrico.

Ficou na unidade intensiva por horas e quando recobrou uma suposta consciência, ela sussurrou um: Incerteza.

Sua mãe que a acompanhava chegou próximo para ouvir o que ela tentava dizer.

A Menina se calou e fitava o teto claro do quarto.

O que se passava em sua mente? Pensava a mãe.

Como deve ser estar em coma, estar entre a vida e a morte? Como seria sua vida depois daquele acontecido? Como é a vida de uma pessoa que sofre derrames ou aquelas que vêem a morte como se estivesse refletida no espelho? De tão perto?

Mas na verdade o que a Menina estava tentando dizer, é que aquela incerteza, era se o que ela fez em vida foi exatamente o que ela queria ter feito. E percebeu que se ela não estivesse pensando no “nada” naquela hora, se ela estivesse prestando mais atenção aos movimentos daquele momento, ela poderia ter escapado do desastre e a partir daquele instante ela começou ocupar o oco de seus pensamentos.

Agradecida pelo o susto daquele “nada”, ela passou a aproveitar cada oportunidade que lhe era posta e cravou um Carpe diem na testa para que toda vez ao olhar o espelho e encarar a outra face, ela não cair no nada da incerteza.

Gabriella Gilmore
Enviado por Gabriella Gilmore em 05/05/2009
Reeditado em 07/05/2009
Código do texto: T1576204
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