VENTOS
A Necessidade é a inspiração de todos os caminhos...
Estamos em 1994, novembro, havia alguns meses que eu saíra do emprego. A indenização precisava ser gerenciada, gastos cortados. No entanto, a libido continuava trabalhando e solicitando minha atenção. Era urgente fazer algo para saciar a sede de sexo sem levar fome à carteira, foi quando tive a tal ideia exótica.
Numa segunda-feira quente, enquanto eu lia o jornal, tive o impulso de passar a vista pelos classificados, mais especificamente na seção de Termas e Massagens. Fui lendo, um a um, os anúncios. De repente, da nuvem espessa em que a escassez de dinheiro me prendia, meu cérebro estalou num espasmo criativo: talvez, houvesse uma saída...
Olhando todos aqueles nomes e telefones de mulheres inscritos na página do jornal, comecei a dar forma a um plano extravagante que a minha mente, embaçada pela aridez do meu bolso, quis acreditar que pudesse dar certo.
A estratégia esboçada se dividiria em quatro etapas:
1) De todos aqueles números, eu selecionaria somente os que percebesse que poderiam ser de mulheres que trabalhassem por conta própria.
2) Feito isso, eu ligaria para cada um deles e pediria para chamar um nome qualquer (de preferência, um nome incomum).
3) Quando a mulher respondesse que não havia ninguém com o tal nome naquele número, eu emendaria com um elogio a sua voz do tipo: “nossa, você tem um jeito de falar que é lindo.” Tentaria todos os telefones até pescar alguma pela vaidade.
4) Quando uma delas aceitasse a isca, eu engrenaria com alguma conversa que a prendesse e tentaria o golpe da sedução eletrônica.
A manhã passou caminhando por tentativas infrutíferas, ganhei muitos foras, palavrões e baques de ligações interrompidas antes que eu terminasse de falar.
A insistência é o maior patrimônio de um cara sem grana.
Fui almoçar e programei a continuação da empreitada para a tarde.
Trancado no escritório de casa, após retornar de um pequeno banquete que me proporcionei num restaurante da Lapa, retomei as ligações. Já estava ultrapassando um pouco a metade da lista quando a mágica aconteceu...
- Alô! Eu gostaria de falar com a Sulamita? – Como disse, eu havia escolhido um nome que não soasse batido.
- Sulamita??!! Não tem ninguém com esse nome aqui. Tu te enganaste com o número. – A resposta veio carregada de um forte sotaque gaúcho.
- Nossa! Que sotaque lindo! Desculpa o abuso, mas seu jeito de falar é mesmo muito bonito, eu não podia deixar de lhe dizer.- Emendei rápido na fala da sulista.
- Obrigada, Piá! Mas não era com a Sulamita que tu querias falar?... – Essa interrogação veio acompanhada de um risinho malicioso que foi a deixa para prosseguir.
- Era com a Sulamita, sim. É minha prima. Mas gostei tanto do seu jeito de falar que fiquei com vontade de conhecer você. Posso? – Era o meu primeiro golpe.
- Ah, é?...
Expectativa... Será que ela vai desligar?
- Qual seu nome? – Lancei de supetão a pergunta para não deixá-la raciocinar
- Larissa.
- Você não é do Rio, Larissa! Acertei?
- Sou Gaúcha. – A resposta foi tão óbvia que não me surpreendi.
- Gaúcha?! Perdida no Rio? – E o papo estava fluindo...
- Não. Estou trabalhando. Vou ser sincera contigo, guri, estou sendo acompanhante aqui no Rio. Tu procuras alguma garota de programa? – Xeque! Eu não esperava por uma resposta tão honesta, supus que ela disfarçaria por pensar que eu tivesse ligado errado.
- Programas??? – Soltei a ridícula interrogação.
- Sabes o que é, né? – Retrucou rindo.
- Acho que sei... – Comecei a me sentir um idiota. – Mora onde aqui no Rio? – Não quis parar com as perguntas para evitar perder o ritmo.
- Copacabana.
E a conversa engrenou... Ela me contou uma daquelas histórias tristes. Disse que tinha vindo ao Rio para trabalhar num Hotel, mas que nada funcionou como esperava. Como ela não queria voltar para o Sul, resolveu morar de aluguel num quarto em Copacabana. Por sugestão da colega de apartamento e pressionada pelas economias que começavam a minguar, decidiu se arriscar nos programas com clientes que eram indicados pela outra, que já era velha de guerra.
Quando completava quatro meses no Rio, chegando ao apartamento, após uma viagem com um cliente, descobriu que todos os seus pertences haviam sumido: roupas, dinheiro, objetos, tudo! Ficou desesperada, estava só com a roupa do corpo e uma pequena quantia no banco. Sua parceira de quarto havia desaparecido e a roubado. Pior do que isso, a tal colega também havia entregado o imóvel. Ela teria que sair...
Encurralada, com medo de denunciar o furto, teve o reflexo de pedir ajuda a um cliente japonês que passava uma temporada na cidade e que gostava dela.
O japa a hospedou em sua quitinete alugada por temporada. Passaram um mês juntos, com ele a bancando, Quando voltou para o Japão, deixou pagos dois meses da locação para que ela pudesse tentar se restabelecer.
Eu chegava neste ponto da sua história.
- Posso continuar ligando pra você? Queria conhecê-la mais. – Eu precisava ter o consentimento. Ela concordou.
Foram duas semanas ligando para Larissa, duas semanas tentando ganhar sua confiança. Fiquei pensando se não teria sido mais fácil ir para uma boate tentar a sorte, mas eu estava obcecado, precisava viver o resultado do meu plano.
Ela me contava ser formada em Letras, que sua última moradia no Brasil foi em Florianópolis. Passou um período na Inglaterra, de onde foi deportada como ilegal. Desse imprevisto, veio parar no Rio.
Num fim de tarde, durante a semana, ela me avisou que estaria no Méier e perguntou se eu não queria aproveitar para buscá-la e dar uma carona até o seu prédio. Não hesitei, marcamos no início da noite.
O local de encontro era na Dias da Cruz. Cheguei um pouco antes e fiquei plantado, esperando. Ao longe, começo a ver se aproximar uma loira alta, vestida num macacão justo e preto, cabelos escorridos e compridos, um corpo descomunal. Ela vinha olhando em minha direção, eu comecei a sentir uma paralisia nos membros.
Não vou mentir, fui acometido de uma frenética e inesperada tremedeira ao desconfiar que aquela loirona que se aproximava era a gaúcha.
Os músculos do meu rosto, da minha boca, pareciam ter assumido independência, moviam-se e repuxavam numa espécie de cacoete histérico. Travou-se uma luta violenta pelo controle dos nervos antes que Larissa se aproximasse demais. A minha vitória foi parcial, meus lábios continuaram rebeldes e repuxando contra a minha vontade, mas o rosto se acomodou.
A beleza da mulher me intimidou.
Quando ela parou a minha frente, eu já tinha virado estátua, meu único sinal de vida era uma respiração descompassada e os lábios trêmulos.
A moça não era bonita, era uma aberração da estética, tal a sua perfeição. A beleza, quando ultrapassa certo estágio, é uma deformação física. Assusta!
Eu me mantive estático e ela me revelou que estava vindo de um desfile, pois também trabalhava como modelo.
Fomos em direção ao meu carro e eu reparando que a loira causava um arrastão de olhares durante o caminho. Ainda não estava certo se tinha dado sorte ou muito azar.
Em Copacabana, o prédio dela ficava na Barata Ribeiro, quase na esquina da Siqueira Campos. Estacionei na Siqueira.
Surpresa! Ela me convidou pra subir. Aceitei. O apê se resumia num quarto e sala de dimensões minúsculas. Ela foi se trocar e fiquei aguardando na saleta.
De volta, numa camisetinha conjugada com um micro-shortinho jeans, ela se senta ao meu lado.
Eu continuava meio embasbacado diante dos olhos azuis da loira, que continuava me embalando na sua conversa repleta de tu, ti, tri, bah e outras expressões dos pampas. Reagindo a pasmaceira que havia me possuído, avancei para tentar um beijo, ela permitiu.
Nesta noite, entendi o conceito de Platão sobre o Amor, deixei de ser uma intercessão solitária pra me transformar na plenitude de um conjunto com aquela beldade nórdica. Nunca mais alcancei uma altitude tão elevada na escala do prazer. Nunca mais eu iria esquecer aqueles momentos capturados num acaso forçado.
No dia seguinte, mandei flores e ela se emocionou.
Ainda ficamos nos vendo por umas duas semanas, eu estava apaixonado. Íamos a praia, ao cinema, restaurantes. Levei-a para conhecer minha família. Esqueci de ser prudente e mergulhei de cabeça em lagoa rasa.
Não demorou para que soasse a notícia que é a marca da tragédia das grandes paixões: a separação. Ela iria voltar para a Europa antes do Natal, não queria continuar no Brasil, não acreditava num futuro aqui. Convidou-me para acompanhá-la, mas eu, pelo oposto, nunca enxerguei perspectivas fora do território nacional.
Está entre as minhas maiores perdas o dia que eu a acompanhei até o Galeão, ela entrando na área de embarque, com rosto triste, me acenando um adeus.... Foi como ver o Diabo levar a minha alma depois de me permitir brincar no paraíso.
Ainda nos correspondemos por algum tempo, até que ela conseguiu voltar para Londres (seu sonho) e terminou casada com um inglês que lhe deu um filho. A correspondência cessou, nunca mais a vi e nem tive notícias.
Jamais soube se tudo o que me falava era verdade. Há alguns anos, percorrendo o Rio Grande do Sul, fiz uma parada na cidade que ela dizia ser o lar de sua família e onde residiu por 19 anos. Deixei uma carta no endereço que ela me ofereceu como referência, mas nunca soube se a recebeu.
Nem sei por que estou narrando essas lembranças... Talvez, seja pela falta de um tema mais edificante; talvez, seja por conta de uma chuva persistente que assolou o Rio por estes dias; talvez, tenha sido o vento gelado que entrou pela janela trazendo uma nostalgia londrina... Talvez!...
A Necessidade é a inspiração de todos os caminhos...
Estamos em 1994, novembro, havia alguns meses que eu saíra do emprego. A indenização precisava ser gerenciada, gastos cortados. No entanto, a libido continuava trabalhando e solicitando minha atenção. Era urgente fazer algo para saciar a sede de sexo sem levar fome à carteira, foi quando tive a tal ideia exótica.
Numa segunda-feira quente, enquanto eu lia o jornal, tive o impulso de passar a vista pelos classificados, mais especificamente na seção de Termas e Massagens. Fui lendo, um a um, os anúncios. De repente, da nuvem espessa em que a escassez de dinheiro me prendia, meu cérebro estalou num espasmo criativo: talvez, houvesse uma saída...
Olhando todos aqueles nomes e telefones de mulheres inscritos na página do jornal, comecei a dar forma a um plano extravagante que a minha mente, embaçada pela aridez do meu bolso, quis acreditar que pudesse dar certo.
A estratégia esboçada se dividiria em quatro etapas:
1) De todos aqueles números, eu selecionaria somente os que percebesse que poderiam ser de mulheres que trabalhassem por conta própria.
2) Feito isso, eu ligaria para cada um deles e pediria para chamar um nome qualquer (de preferência, um nome incomum).
3) Quando a mulher respondesse que não havia ninguém com o tal nome naquele número, eu emendaria com um elogio a sua voz do tipo: “nossa, você tem um jeito de falar que é lindo.” Tentaria todos os telefones até pescar alguma pela vaidade.
4) Quando uma delas aceitasse a isca, eu engrenaria com alguma conversa que a prendesse e tentaria o golpe da sedução eletrônica.
A manhã passou caminhando por tentativas infrutíferas, ganhei muitos foras, palavrões e baques de ligações interrompidas antes que eu terminasse de falar.
A insistência é o maior patrimônio de um cara sem grana.
Fui almoçar e programei a continuação da empreitada para a tarde.
Trancado no escritório de casa, após retornar de um pequeno banquete que me proporcionei num restaurante da Lapa, retomei as ligações. Já estava ultrapassando um pouco a metade da lista quando a mágica aconteceu...
- Alô! Eu gostaria de falar com a Sulamita? – Como disse, eu havia escolhido um nome que não soasse batido.
- Sulamita??!! Não tem ninguém com esse nome aqui. Tu te enganaste com o número. – A resposta veio carregada de um forte sotaque gaúcho.
- Nossa! Que sotaque lindo! Desculpa o abuso, mas seu jeito de falar é mesmo muito bonito, eu não podia deixar de lhe dizer.- Emendei rápido na fala da sulista.
- Obrigada, Piá! Mas não era com a Sulamita que tu querias falar?... – Essa interrogação veio acompanhada de um risinho malicioso que foi a deixa para prosseguir.
- Era com a Sulamita, sim. É minha prima. Mas gostei tanto do seu jeito de falar que fiquei com vontade de conhecer você. Posso? – Era o meu primeiro golpe.
- Ah, é?...
Expectativa... Será que ela vai desligar?
- Qual seu nome? – Lancei de supetão a pergunta para não deixá-la raciocinar
- Larissa.
- Você não é do Rio, Larissa! Acertei?
- Sou Gaúcha. – A resposta foi tão óbvia que não me surpreendi.
- Gaúcha?! Perdida no Rio? – E o papo estava fluindo...
- Não. Estou trabalhando. Vou ser sincera contigo, guri, estou sendo acompanhante aqui no Rio. Tu procuras alguma garota de programa? – Xeque! Eu não esperava por uma resposta tão honesta, supus que ela disfarçaria por pensar que eu tivesse ligado errado.
- Programas??? – Soltei a ridícula interrogação.
- Sabes o que é, né? – Retrucou rindo.
- Acho que sei... – Comecei a me sentir um idiota. – Mora onde aqui no Rio? – Não quis parar com as perguntas para evitar perder o ritmo.
- Copacabana.
E a conversa engrenou... Ela me contou uma daquelas histórias tristes. Disse que tinha vindo ao Rio para trabalhar num Hotel, mas que nada funcionou como esperava. Como ela não queria voltar para o Sul, resolveu morar de aluguel num quarto em Copacabana. Por sugestão da colega de apartamento e pressionada pelas economias que começavam a minguar, decidiu se arriscar nos programas com clientes que eram indicados pela outra, que já era velha de guerra.
Quando completava quatro meses no Rio, chegando ao apartamento, após uma viagem com um cliente, descobriu que todos os seus pertences haviam sumido: roupas, dinheiro, objetos, tudo! Ficou desesperada, estava só com a roupa do corpo e uma pequena quantia no banco. Sua parceira de quarto havia desaparecido e a roubado. Pior do que isso, a tal colega também havia entregado o imóvel. Ela teria que sair...
Encurralada, com medo de denunciar o furto, teve o reflexo de pedir ajuda a um cliente japonês que passava uma temporada na cidade e que gostava dela.
O japa a hospedou em sua quitinete alugada por temporada. Passaram um mês juntos, com ele a bancando, Quando voltou para o Japão, deixou pagos dois meses da locação para que ela pudesse tentar se restabelecer.
Eu chegava neste ponto da sua história.
- Posso continuar ligando pra você? Queria conhecê-la mais. – Eu precisava ter o consentimento. Ela concordou.
Foram duas semanas ligando para Larissa, duas semanas tentando ganhar sua confiança. Fiquei pensando se não teria sido mais fácil ir para uma boate tentar a sorte, mas eu estava obcecado, precisava viver o resultado do meu plano.
Ela me contava ser formada em Letras, que sua última moradia no Brasil foi em Florianópolis. Passou um período na Inglaterra, de onde foi deportada como ilegal. Desse imprevisto, veio parar no Rio.
Num fim de tarde, durante a semana, ela me avisou que estaria no Méier e perguntou se eu não queria aproveitar para buscá-la e dar uma carona até o seu prédio. Não hesitei, marcamos no início da noite.
O local de encontro era na Dias da Cruz. Cheguei um pouco antes e fiquei plantado, esperando. Ao longe, começo a ver se aproximar uma loira alta, vestida num macacão justo e preto, cabelos escorridos e compridos, um corpo descomunal. Ela vinha olhando em minha direção, eu comecei a sentir uma paralisia nos membros.
Não vou mentir, fui acometido de uma frenética e inesperada tremedeira ao desconfiar que aquela loirona que se aproximava era a gaúcha.
Os músculos do meu rosto, da minha boca, pareciam ter assumido independência, moviam-se e repuxavam numa espécie de cacoete histérico. Travou-se uma luta violenta pelo controle dos nervos antes que Larissa se aproximasse demais. A minha vitória foi parcial, meus lábios continuaram rebeldes e repuxando contra a minha vontade, mas o rosto se acomodou.
A beleza da mulher me intimidou.
Quando ela parou a minha frente, eu já tinha virado estátua, meu único sinal de vida era uma respiração descompassada e os lábios trêmulos.
A moça não era bonita, era uma aberração da estética, tal a sua perfeição. A beleza, quando ultrapassa certo estágio, é uma deformação física. Assusta!
Eu me mantive estático e ela me revelou que estava vindo de um desfile, pois também trabalhava como modelo.
Fomos em direção ao meu carro e eu reparando que a loira causava um arrastão de olhares durante o caminho. Ainda não estava certo se tinha dado sorte ou muito azar.
Em Copacabana, o prédio dela ficava na Barata Ribeiro, quase na esquina da Siqueira Campos. Estacionei na Siqueira.
Surpresa! Ela me convidou pra subir. Aceitei. O apê se resumia num quarto e sala de dimensões minúsculas. Ela foi se trocar e fiquei aguardando na saleta.
De volta, numa camisetinha conjugada com um micro-shortinho jeans, ela se senta ao meu lado.
Eu continuava meio embasbacado diante dos olhos azuis da loira, que continuava me embalando na sua conversa repleta de tu, ti, tri, bah e outras expressões dos pampas. Reagindo a pasmaceira que havia me possuído, avancei para tentar um beijo, ela permitiu.
Nesta noite, entendi o conceito de Platão sobre o Amor, deixei de ser uma intercessão solitária pra me transformar na plenitude de um conjunto com aquela beldade nórdica. Nunca mais alcancei uma altitude tão elevada na escala do prazer. Nunca mais eu iria esquecer aqueles momentos capturados num acaso forçado.
No dia seguinte, mandei flores e ela se emocionou.
Ainda ficamos nos vendo por umas duas semanas, eu estava apaixonado. Íamos a praia, ao cinema, restaurantes. Levei-a para conhecer minha família. Esqueci de ser prudente e mergulhei de cabeça em lagoa rasa.
Não demorou para que soasse a notícia que é a marca da tragédia das grandes paixões: a separação. Ela iria voltar para a Europa antes do Natal, não queria continuar no Brasil, não acreditava num futuro aqui. Convidou-me para acompanhá-la, mas eu, pelo oposto, nunca enxerguei perspectivas fora do território nacional.
Está entre as minhas maiores perdas o dia que eu a acompanhei até o Galeão, ela entrando na área de embarque, com rosto triste, me acenando um adeus.... Foi como ver o Diabo levar a minha alma depois de me permitir brincar no paraíso.
Ainda nos correspondemos por algum tempo, até que ela conseguiu voltar para Londres (seu sonho) e terminou casada com um inglês que lhe deu um filho. A correspondência cessou, nunca mais a vi e nem tive notícias.
Jamais soube se tudo o que me falava era verdade. Há alguns anos, percorrendo o Rio Grande do Sul, fiz uma parada na cidade que ela dizia ser o lar de sua família e onde residiu por 19 anos. Deixei uma carta no endereço que ela me ofereceu como referência, mas nunca soube se a recebeu.
Nem sei por que estou narrando essas lembranças... Talvez, seja pela falta de um tema mais edificante; talvez, seja por conta de uma chuva persistente que assolou o Rio por estes dias; talvez, tenha sido o vento gelado que entrou pela janela trazendo uma nostalgia londrina... Talvez!...