Num único cômodo

Já se passava das cinco da amanhã, quando ele despertou do sonho que o fez tremer, o desespero entrou pela fresta da porta entreaberta, junto com a luz do dia amanhecendo na manhã fria de julho.

Sobre a cama mal vestida, num único cômodo situado na periferia da cidade, estava o corpo de Susanna, exposto na nudez infantil de seus catorze anos. Gélido, estático e morto.

Seu coração disparou ao perceber que o da garota não mais batia. E uma onda de arrependimento lhe invadiu o peito. Uma dor atingiu a sua têmpora de uma forma inigualável, e a loucura começava a tomar posse do seu corpo.

Numa fração de segundos, a porta fora trancada e as cortinas da única janela fechada, com uma das mãos tentando controlar a dor pressionando a cabeça, varia vozes surgiam, e espíritos entravam e saiam de seu corpo mutilado de imagens, de horror.

Mais uma dose de droga poderia resolver, mas ele sabia que a culpa certamente era da combinação com toda a garrafa de uísque barato, comprado de um camelô na esquina.

Não se lembra mais de nada, nem do bar onde tinha encontrado a menina, e como tinha comprado seu corpo por trocados.

Estava surtando, desesperado, quando por sorte, acordou. Ao lado de sua esposa, que respirava lindamente, deitado numa cama luxuosa de um hotel de Paris.

Paula Rodrigues (Coka)
Enviado por Paula Rodrigues (Coka) em 30/04/2009
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