PROST & TUTA

Pra começo de assunto, o jovem PROST, seguindo uma tradição familiar, sempre foi um grande fanático por tudo que era relacionado ao automobilismo. Daí a razão da sua alcunha que o seu pai pôs em homenagem ao grande piloto Alan Prost, famoso nos anos 70. Fora desse circuito e longe da família, o jovem ALAN era um frequentador assíduo de prostíbulos, o que aumentava a gozação dos amigos com relação ao seu cognome. Mas ele já estava muito acostumado e não ligava para nada disso. Portanto, se alguma paquera nova perguntasse a origem do seu apelido ele já falava logo que era em homenagem ao piloto, seu ídolo, por que não? Agora, se fosse um colega, ele já alegava era por causa das suas façanhas durante as visitas aos bordéis da cidade, confirmando a sua fama de garanhão. Em síntese, para as duas situações ele tinha uma justificativa, principalmente neste último caso, quando numa de suas visitas à zona de meretrício simpatizou-se, ou melhor, enamorou-se por uma das jovens que “trabalhavam” naquele ambiente sórdido e pernicioso. Mesmo sabendo disso, quando enchia a cara, era ali que ele ia descarregar suas energias ou como costumava dizer, numa linguagem chula, afogar o ganso... O que, amiúde, não conseguia por algum motivo alheio à sua vontade.

Então, certo dia, ao fazer uma de suas esporádicas visitas à famosa zona no centro da cidade, simpatizou-se imediatamente com uma jovem que ali “trabalhava” e sentiu logo uma grande atração física e pelo visto, a recíproca foi verdadeira. Pôs ao entrar no antro dos programas, naquela ocasião, naquele dia por obra e graça do destino não rolou nenhuma relação íntima. Acredite se quiser, só foi conversa. Os dois pareciam que estavam nas nuvens. Por coincidência ou não, o apelido da morena com quem conversava era muito singular e atípico: TUTA. Não pensou duas vezes. Não teve nenhuma dúvida: achara a mulher da sua vida. Até o seu nome de guerra, ao somar ao seu, já formavam um terceiro nome, o qual sintetizava a profissão ou atividade mais antiga do mundo: PROST&TUTA. Mas até aqui era tudo coincidência, nada mais. Não adiantava se empolgar muito, apesar de que tudo parecia um sonho ou pesadelo. E logo percebeu que não era, quando um grande barulho vindo da sala contígua atrapalhou um pouco a conversa de ambos. E por pura curiosidade resolveram averiguar a origem de tanta balbúrdia. Logo perceberam que era um rapaz, achando-se o dono da cocada preta, porque tinha dinheiro, abusou de uma das meninas, apalpando os seios, o que, obviamente ela não permitiu, pois outras pessoas estavam no local. Então a celeuma começou ao mesmo tempo em que as colegas já foram para cima do freguês abusado e apalpador e percebendo que ele estava embriagado, expulsaram o dito cujo do recinto

Então o primeiro momento íntimo do casal PROST & TUTA foi postergado, em virtude de ela alegar que estava naqueles dias, isto é

menstruada, uma justificativa ou desculpa que a mulher usa, assim

também pela falta de clima devido aquela confusão no andar onde os dois se encontravam. Ele não pareceu nada chateado e prometeu voltar tão logo ela estivesse com a saúde restabelecida. Mesmo assim, ao tomar conhecimento da péssima situação financeira daquela garota de programa, mesmo sem ela estipular quanto cobrava por programa, resolveu pagar e o fez com generosidade, deixando-a muito grata. O rapaz realmente tinha palavra. PROST após quatro dias regressava ali e logo se encontrou com a sua preferida, fazendo-lhe agora uma proposta séria, irrecusável. Senão vejamos o que disse.

Queria, gostaria de tirá-la daquele ambiente torpe e desumano. TUTA achou aquela proposta mirabolante, mas assim de surpresa, ela pediu um tempo para pensar. Mesmo assim, resolveram comunicar tal fato à cafetina. Esta simplesmente deu uma grande risada de deboche e irônica. Em seguida falou:

-“Olha aqui, meus pombinhos, se vocês estão assistindo muita novela ou filme, aí é problema de vocês.” “Mas só falo uma coisa: a porta da rua é a serventia da casa”. “Só que se der com os burros n’água, aquela mesma porta estará fechada e trancada, entendeu, garota? O recado está dado e fim de papo!”. “Nem vou lhe desejar boa sorte, pois já está muito mais do que provado que ela é sua eterna companheira”. “Depois, o rapaz aí dirá se eu tenho ou não razão!!”.

Realmente, aquela senhora do prostíbulo, isto é, a cafetina tinha toda a razão. TUTA era, além de uma mulher de muita sorte, também sabia usar um pouco a malandragem a seu favor. Pois conseguia ludibriar quase todos os seus clientes com desculpas esfarrapadas e evasivas, usava artifícios para satisfazê-los, à proporção que ia ganhando o seu dinheirinho. Ela só não conseguia entender o porquê muitos homens só se apresentavam para transar totalmente embriagados. Alguns ela convencia com certa facilidade, com um jeitinho todo especial e malicioso, maneiro, sutil. Conseguia com que eles pagassem o programa sem haver nenhuma relação íntima, isto é, transa e penetração, etc. Com raríssimas exceções atendia alguns truculentos, acavalados, metidos a machão, mas logo ela encontrava um meio de jogar um balde de água fria naquela afobação toda.

Com PROST ela só alegou a sua menstruação. Mas como ele não insistiu muito, tudo foi resolvido sem procrastinar absolutamente nada. Como tudo tem seu tempo certo, não demorou nada ele regressou e fez aquela súbita e bonita proposta inusitada de mudar de vida. Não deu tempo nem dela pensar nos prós ou contras. Como ela gostava muito de ler lembrou logo de um pensamento que dizia assim: “Há três coisas na vida que não voltam atrás: a palavra dada, a flecha atirada e a oportunidade perdida!”. Então, olhando bem nos olhos de PROST, sentindo firmeza nas suas palavras, aceitou a sua proposta: deixar o bordel para ir morar com ele. O que fez? Pagou o que devia ali, despediu das companheiras, das colegas, menos das amigas, pois não as tinha e mudou-se toda confiante para a residência daquele cliente especial e com o qual não tivera nenhuma relação sexual. Os dois acreditavam que ninguém perdia por esperar o dia e a hora para tal momento acontecer. Quando chegasse à hora os dois saberiam aproveitar o momento certo e sentiriam o que o Roberto Carlos expressou na sua bela canção: “estrelas mudam de lugar, chegam mais perto só pra ver...E ainda brilham de manhã, depois do nosso amanhecer!...”

Se a vida desses dois personagens foi tudo às mil maravilhas como sintetiza essa bela canção, ninguém sabe. Tudo indica que levaram uma vida normal e que o mais importante é que para PROST, a TUTA, sua TUTINHA na intimidade, agora não precisava mais fingir para mais ninguém. Pois agora ela seria só sua no dia e hora em que ambos tivessem vontade, o que sempre é muito importante na convivência de um casal que se respeita, deseja e quer muito. Isso que aconteceu a ambos não foi nenhum milagre, apenas uma grande coincidência da vida, onde o côncavo e o convexo estiveram frente a frente no momento certo. Não digo no local por que aí estaria fugindo da verdade, ou seja, estaria mentindo. Ou o (a) leitor (a) discordará do meu ponto de vista? Também isso não vem ao caso.

João Bosco de Andrade Araújo

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JOBOSCAN
Enviado por JOBOSCAN em 29/04/2009
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