O velho e os três cachorros

Hoje eu estava indo para a faculdade pela manhã e resolvi subir aé a Cidade Alta para pegar o 485 Cordovil-Leblon. O primeiro ônibus que estava para sair já estava cheio e eu me senti um tanto quanto indisposto para fazer o trajeto Cidade Alta-Rio Sul a pé. Resolvi esperar o próximo.

Obviamente quando o segundo ônibus, que já estava chegando quando o primeiro saiu, chegou e liberou a entrada todos subiram para esperar durante uns 20 minutos para que ele saísse. Eu subi, escolhi a cadeira da janela atrás da Papa-Móvel (a cadeirinha alta) e tirei meu livro, Homens e Máquinas do Kim Vicente, da mochila.

Nesse momento olhei pela janela e vi um senhor, já bem idoso, com o cabelo meio grande para o padrão de senhores dessa idade e com a barba por fazer. Ele estava com um pão aparentemente velho e um copo de algo que eu suponho que fosse café-com-leite. À sua frente tinham três cachorros, sendo um deles um poodle e os outros dois vira-latas.

O velho senhor tirou um pedaço do pão e deu para um dos cachorros. Tirou mais um pedaço e deu para o poodle. Tirou um terceiro pedaço e deu para o último canino. Depois pegou um pedaço do pão e colocou em sua própria boca. E deu uma golada no café-com-leite.

Depois ele tirou mais um pedaço do pão e estava com ele parado em sua mão. O primeiro cachorro se aproximou um pouco mais e pegou com o focinho o pedaço de pão das mãos do velho senhor. O terceiro cachorro estava se coçando e nem olhava para o generoso idoso. O Poodle agora um pouco mais afastado olhava para o velho quando ele arremessou um pedaço de pão em sua direção. Habilmente o pequeno cachorro pega o pedaço ainda no ar, quando o pão estava fazendo um movimento que me lembrou a parábola da física. O terceiro cachorro continuava se coçando e se lambendo.

Só restou um único pedaço de pão. O velho se levantou com o pão e o copo nas mãos, desviou do primeiro cachorro que estava bem na sua frente, deu um tapinha no terceiro cachorro e o deu o último pedaço de pão.

Depois foi andando na direção contrária com seu copo de café-com-leite. E os três cachorros o acompanharam em seu lento caminhar.

Logo depois de ver essa cena, meu ônibus partiu. E meu cérebro voltou a pensar nos velhos problemas de sempre que circulam as cabeças dos pobres humanos comuns...