A bela desconhecida...
A bela desconhecida...
Essa história aconteceu na capital paulista, no ano de 1975, mais ou menos. Eu era casado e morava com a minha mulher e a nossa filhinha no bairro de Pirituba, de onde todo dia eu vinha trabalhar na famosa Companhia Melhoramentos de São Paulo. Gigante fábrica de livros e de papel. A empresa ficava na rua Tito no bairro da Lapa. Na hora do “rush”. Na saída da fábrica, tinha que caminhar um bom pedaço para chegar no Shopping da Lapa, onde tomava o ônibus para Pirituba. Havia ainda o trem para Caieiras, como opção, mas o ônibus era mais viável.
Certo dia no meio do trajeto de uma dessas caminhadas aparece uma linda moça. Bem vestida. Estava frio e ela usava um casaco. Ela veio ao meu encontro como já me conhecesse há muito tempo. Abraçou-me ali no meio da rua e quase me beijou. Fiquei assustadíssimo.
- Espere aí, quem é você? Não estou lembrado!
- Não conhece mais tua esposa, Carlos?
- Não me chamo Carlos, sou Luís!
- Deixe de brincadeira, Carlos! – a mulher insistia dizendo que eu era o seu marido.
Aqui devo explicar melhor. Eu era jovem ainda. A moça era bonita e parecia bem de situação pela sua roupa. A carne é fraca, Abracei aquela moça e tentei convencê-la que eu não era a pessoa que ela procurava. E ali no meio do povo eu tremia de medo de aparecer um parente ou a polícia à sua procura. Eu não tinha dinheiro para levá-la a lugar nenhum. Num dos amassos coloquei a mão no seu bolso e encontrei um punhado de dinheiro. Que imediatamente passei para o meu bolso. Pois tinha que sair dali logo. e esperava o pior. Como o dinheiro dava tomei um ônibus ao contrário para onde eu ia, só para fugir daquela moça. Naquele horário, todas as conduções já andavam super lotadas. Quando olho para trás, a bendita moça atrás de mim. Antes de passar a roleta. Agora quem estava sem dinheiro era ela. Com medo que ela me entregasse paguei a sua passagem e fomos para o centro de Sampa. Logo ao descer ela insistiu.
- E a nossa filha, Carlos! Onde está nossa Cristina?
- Já lhe disse que não sou Carlos e não conheço essa Cristina!
Eu nunca usei drogas e pergunto a você leitor. Será que esta moça estava drogada? E assim foi até o terminal Tietê. Estação rodoviária, na época. Depois de muito medo da polícia, lembrei-me da escada rolante. Subi a escada correndo à sua frente. Ela prontamente me alcançou no meio da escada. Eu dei uma olhada para cima e desviei o seu olhar. Então voltei meio correndo para o chão. Ela ficou no meio da escada e continuou a subida. Ainda lhe dei um tchau para despistar o público, lá de baixo. Agora estava livre da minha bela desconhecida.
Cheguei muito tarde em casa naquele dia e com dinheiro no bolso. Minha mulher até hoje não acreditou na minha história.
Theo Padilha
Joaquim Távora, 23 de abril de 2009