Rito
O homem magro, alourado e de aspecto distinto, cumpria seu ritual cotidiano dos fins de tarde e primeiras horas da noite, no seu estranho vai e vem no terraço do edifício, enquanto seus lábios se movimentavam incessantemente em secretas palavras, frases, preces...ou talvez mudas canções, sabe-se lá!
Se de canções se tratava, seriam em pensamento, porquanto nenhum som conseguia ouvir, vindo dos seus lábios sempre a bulir; Seriam então aflitas preces, do Terço a Ave Maria, murmurada em agonia, pelo drama que o afligia...
Eram graves as suas feições e mortiços eram seus olhos claros da cor do céu, estranhamente inexpressivos, profunda e perturbadoramente tristes, como se vida neles não mais existisse!
Naquela noite, estranhei a falta do senhor magro e distinto, caminhando em seu vai e vem pelo recinto! Do pátio interno de pouca iluminação, ouviam-se alteradas vozes e pouco usual movimentação...
É que o homem magro, alourado e de aspecto distinto, lá jazia ensanguentado, massivamente quebrado! Seus imóveis olhos e lábios que já não buliam...Eu juraria que sorriam!