No Restaurante.
- Rodízio para nós dois, por favor.
- Bem sabes que não aguento comer muita carne.
- Calma mulher. Come somente os cortes que mais te apetecem.
- Prefiro comer um sushi.
- Argh! Peixe cru? Não. Não me agrada.
- É difícil saber o que te agrada.
- É. Acho que nunca soubeste mesmo.
- Vai querer discutir a relação aqui, agora?
- Eu não, a mulher aqui é você.
Pedro é um homem muito machista. Daqueles que convidam a mulher para comer em tal restaurante e nem pergunta se ela quer. Também pudera: o banco do motorista é propriedade sua.
- Olha Marisa, eles têm carne de javali. Você sabe o que é Javali, não é?
Silêncio! Essa sempre foi a forma de Marisa desprezar o Pedro. E como mexe com ele.
- Vais ficar calada, não é? Se continuar assim, me levanto e vou embora.
Ela abriu um sorrisinho, no canto da boca e abaixou um pouco as pálpebras, desafiadora.
Ele olhou sério para os seus olhos. A partir dali, a reação interna que o envolveu, o transportava para ser o menino magoado que não conseguia conquistar a atenção da mãe. Ela percebia tudo e só aguardava em silêncio.
Ele olhou para os lados procurando o garçon. Quando fez menção de chamá-lo, ela falou:
- Acho que vou a mesa de frios. Eles sempre têm saladas de bacalhau ou de palmito.
Levantou-se. Foi saindo bem tranquila rumo ao bufê. Suas ancas se movimentavam da direita para a esquerda, compassadamente. Vez ou outra olhava para os lados, como quem procura algo.
Pegou um prato e quando ia se servir, ouviu uma voz familiar, bem doce, que dizia:
- Sabe amor, acho que essa salada de atum com cenoura está uma delícia. Lembra daquela que fiz para você lá no meu antigo apartamento quando ainda éramos namorados? Deixe eu colocar um pouco no seu prato.
Ela só olhava para ele e sorria. Era o bastante. Ele estava feliz, parecia o Pedrinho.