Um Caldeirão de Curau e os Dedinhos
Um Caldeirão de Curau e os Dedinhos
A tradicional festa de são João numa fazenda do interior da Bahia. A década era os anos cinquenta. A família era de porte razoavelmente grande, dez pessoas.
Todos os anos, chegada à véspera da noite de São João, 24 de junho era o dia D, logo pela manhã o chefe daquela família marchava para a roça a apanhar o milho verde para o curau, cujo era mais conhecido como canjica, a canjica ou curau era indispensável nessa época do ano. Enquanto a mulher e as filhas preparavam o milho, ele apanhava o grande machado e acompanhado pelo peão lenhador, partiam para a mata em busca de uma árvore, cujo tronco medisse em torno de 80 a 120 cm de diâmetro, a árvore era arrastada por uma junta de bois até a frente da casa grande e aí, cortada em seis ou oito toros com 120 cm de comprimento aproximadamente, a montagem da fogueira de São João era feita da seguinte forma, na base, eram três toros sobreposto por dois e por um, ou quatro toros, sobreposto por três e seguido por dois, a fogueira deveria queimar durando toda a noite a partir das 18h até a noite do dia seguinte e isso sempre acontecia de ficar até ao segundo dia. Todavia; ainda falta a árvore de são João que era um ramo de árvore de aproximadamente quatro metro de altura que era fincada ao lado da fogueira e enfeitada com espigas de milho e laranjas, além de espetos confeccionados com madeira; cujos eram utilizados para que os visitantes espetassem às espigas para assá-las na fogueira.
O milho depois de descascado, triturado e coado, era juntado leite, açúcar, cravo e canela e num grande caldeirão era levado ao fogo para cozer, a mão não parava de mexer o líquido para que este não formasse pelotas, depois de cozido, a canjica estava pronta e era despejada em tudo que fosse vasilha, pratos, tigelas etc.
Contudo: o grande caldeirão, ah! O caldeirão! Este sim era o principal da festa, pois ia parar nas mãos das crianças que com os belos dedinhos, sem importarem-se se estavam limpos ou sujos da terra, enfiavam-nos naquele grande e saboroso caldeirão a lambiscar o que dele retiravam com os belos dedinhos.
O caldeirão só era deixado de lado, quando nada houvesse nele para ser raspado ou lambido. Nenhuma migalha da canjica poderia restar nele. E a festa continuava; a noite havia queima de fogos, as crianças soltavam traques e estalos, além de chuvinhas para as meninas e moças, havia fogos mais arrojados para os homens, era o tradicional foguete de vara que havia de dois tipos, o de três tiros e o de doze tiros.
Aos visitantes eram servidos a tradicional canjica/curau e o tradicional licor de jenipapo, noite de São João, sem esse licor de sabor exótico, não teria graça, havia também outros licores, como o de laranja, o de cravo e o de canela que eram preparados pela matriarca daquela fazenda. Contudo: o licor de jenipapo era o carro chefe.
Em volta da fogueira; moças e rapazes brincavam de cantiga de roda: não havia música tocada, comtudo: isso não se fazia necessário, pois só o cantar das moças a dizer versos era suficiente. Os homens apraziam-se em contar causos, especialmente de caça e pesca e assim era a tradicional noite de São João.
De: Raimundo Chaves – 22 de abril de 2009