O Retorno

O Retorno

O Sol da tarde aquecia a pequena rua , casinhas de madeira enfileiradas em suas cores claras refletiam o calor do dia.Eram três horas ,muitos moradores estavam cochilando,alguns estirados em suas espreguiçadeiras,sonolentos,entorpecidos pelo calor.Marisa olhou o céu,nenhuma nuvem, faria mais calor.Arrumou o chapéu de palha na cabeça,pegou a garrafinha de água levando-a aos lábios.A agradável sensação do líquido fresco na garganta fez com que se sentisse melhor frente ao Sol escaldante da tarde.Atravessou o canteiro cheio de margaridinhas acomodando-se num muro baixo de um chalezinho.Contornou a rua com os olhos lembrando-se de cada canto,cada árvore,cada momento.Fazia anos que havia partido,na época a rua ainda era de terra batida e muitas casinholas eram de madeira,poucos postes de luz iluminavam nas noites frias de inverno.Agora a rua estava moderna,postes de concreto percorriam-na ,o calçamento de asfalto favorecia ao fluxo de carros o que naquele horário estava calmo,pois a rodoviária ficava logo ali perto e muitas pessoas utilizavam aquela via como desvio.

Marisa olhou o relógio, ainda tinha tempo,levantou-se e dirigiu-se até o final da rua onde havia um campinho de futebol,outrora ali ficava uma lagoinha ,onde em dias de chuvas a criançada ia nadar.O campinho estava vazio,a não ser por um rapazinho solitário a fazer embaixadinhas com sua bola.Mais ao fim, havia alguns eucaliptos,onde antigamente eram numerosos.O “meu bosque”,lembrou Marisa.Muitas vezes ela havia seguido pela velha trilha a procurar gravetos,folhagens para brincar ,acreditava que aquele local era mágico,com seus eucaliptos perfumados e os pássaros que ali viviam.

Procurou a velha trilha acabou achando-a mais a frente, percorreu o caminho dando em direção a um portão de ferro,enferrujado,atrás dele erguia-se um velho chalé de madeira branca com telhado e aberturas vermelhas,ainda possuía o alpendre todo adornado de pequeninas rosas .Marisa ficou ali,observando,sentindo antigos aromas,ouvindo antigas vozes,antigas músicas.Uma sensação lhe percorreu o corpo,talvez saudade,talvez tristeza,apenas uma dorzinha no peito ,um vazio ,um nunca mais.Abriu o portão e seguiu pela calçadinha de tijolos,subindo o degrau lentamente,como se fosse quebrá-lo com suas pisadas.Bateu na porta,lá de dentro ouviu um som arrastado,um cheiro adocicado vinha das janelas .Num arrastar, a porta abre-se e dela surge uma mulher de idade avançada de cabelos brancos,presos num coque,usava óculos minúsculos apoiados na ponta do nariz,vestindo uma espécie de avental cheio de florzinhas e numa das mãos uma colher de madeira.

Marisa respirou fundo e disse : -Boa Tarde ! A mulher ,arrumou os óculos ,firmando o olhar respondendo: Boa tarde minha filha!

-Não me reconhece vovó?

A senhora apertou seus olhos castanhos,e deles um brilho surgiu,sorrindo abriu os braços enlaçando a moça num forte abraço :-Você veio me ver querida!

Marisa entre lágrimas disse :Vovó estou aqui!.

As duas mulheres entraram,sentaram-se na pequena sala aconchegante,ali o calor era abrandado pela sombra de uma amoreira que ficava ao lado da casa.Marisa fechou os olhos e sentiu aquele perfume tão querido e por tantos anos lembrado.Agora estava ali,a saudade havia tornado-se realidade.Marisa estava de volta ao seu antigo canto,somente agora ela permitia-se um bem estar que nunca em lugar algum havia se permitido.Marisa retornava ao seu passado,a sua origem,o tempo lá fora estava estático ,apenas aquela sala,aquele perfume,aqueles braços aconchegantes existiam .Marisa voltava delicadamente para sua querida e esquecida infância

Violetta

Violetta
Enviado por Violetta em 19/04/2009
Código do texto: T1547683
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