A ENTREVISTA

Era uma quinta-feira calorenta e seu Amadeu reuniu toda a família para assistir a entrevista que iria ao ar no jornal de meio dia. Dona Corina sentou-se a frente de todos na cadeira de balanço com tirinhas vermelhas já gastas pelo tempo.

As coisas se deram de forma inusitada. O acidente aconteceu bem à sua frente, quando, o ônibus que dirigia parou no ponto frente ao supermercado do bairro. A moto atravessou o sinal e deu de frente com o caminhão que transportava bujões de gás. As três pessoas, entre elas uma criança de mais ou menos um ano, voaram por sobre o asfalto. A criança morrera no local mas os adultos,que soube mais tarde eram os pais da criança foram levadas ao hospital.

A equipe TV chegou logo, antes mesmo do corpo de bombeiros, e a moça, filha de Nininha, que fazia às vezes de jornalista o chamou para a entrevista.

Fez perguntas sobre o acidente, coisas triviais, sobre se ele tinha visto e o que achava sobre aquele cruzamento perigoso etc.

O jornal aconteceu como sempre e nada de entrevista, nada sobre o acidente nem sobre como ficou a situação das vitimas, é que no momento o calor e a previsão de chuva tomaram grande parte do programa.

Dona Corina praguejou alguma coisa sobre o atraso no almoço, seu Amadeu ficou meio sem graça e foi na padaria comprar uma coca dois litros.

No almoço nada se falou sobre o assunto e a derrota do Flamengo foi a única nota que se ouviu naquela refeição especial de macarrão com molho, coisa que só se davam ao luxo aos domingos.

David Souza
Enviado por David Souza em 14/04/2009
Código do texto: T1538029
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