TRÊS GAROTAS E UM RAPAZ
Se o título acima lembra algum filme,sinto muito, mas posso garantir que não se trata disso. Peço desculpas. Não o é. A minha intenção não foi essa. Mas trata de uma aventura, por sinal, onde não rolou nada de sexo, se alguém já estiver pensando. Sinceramente, se tivesse saído tudo conforme o combinado poderia até haver algo nesse sentido. Acontece que na hora H dois rapazes que formariam os três casais desistiram do programa. Desceríamos a serra rumo à baixada santista, passando um final de semana tranquilamente ou não, tudo dependeria do tempo. Naquela ocasião trabalhávamos numa renomada Empresa de Comunicações nesta gigantesca São Paulo. Então o programa foi combinado numa sexta-feira. As garotas ficaram animadíssimas. Jamais imaginariam que no dia seguinte ficariam frustradas com a desistência dos dois colegas.
Fui comunicar a notícia às meninas. Na hora percebi que ficaram decepcionadas, mas não se entregaram a uma frustração momentânea. Foi quando a mais entusiasmada com o passeio assim falou:
- João, você veio nos comunicar que o Luiz e o Cláudio desistiram do passeio. Mas há uma pergunta que não quer calar: E você? O que nos diz? Topa ir conosco? Pois as nossas famílias já estão sabendo que daqui nós desceremos a serra. Pretendemos voltar só amanhã à tarde. E bem bronzeadas, lógicas. E aí, o que nos diz, cara. Seja sincero. Não vamos forçar nada, literalmente.
- Demorou! Posso não ter muito dinheiro, mas palavra, modéstia a parte, eu tenho! Vamos nessa, garotas!
- Que legal! - falou uma das irmãs. Sendo assim, ficará até mais fácil tudo que gastarmos lá, como por exemplo, aluguel de kitchenette e pequenas compras, etc.
- Mais fácil por que, Márcia?
- Ora, Sandra, não complica as coisas! Você sabe muito bem que qualquer coisa dividida por um número par fica sempre mais fácil.
-Belo subterfúgio, irmã. Mas perdeu a chance de ficar calada. Posso garantir que o João não entendeu isso, mas tudo bem. Fica o dito pelo não dito!
O certo é que, logo após o expediente daquele sábado, só marcamos “o ponto” na lanchonete para nos abastecer e fomos diretos para a rodoviária. Como passageiros comuns começamos a viagem de descida tranquila. Inclusive, lá chegando não foi nada difícil arrumar um aconchego para alugar. Encontramos uma kitchenette por um preço acessível e num local muito bom. Após uma deliciosa caipirinha, algumas cervejas e lanches, resolvemos aproveitar a noite linda que estava começando. Pegamos um táxi e seguimos para a ilha Porchatt. Aqui, com direito a uma visão panorâmica de toda praia de São Vicente desfrutamos um ambiente sadio e com bastante música. Após uma roda de chopes e batatas frita na parte externa do salão, uma das garotas, sempre a mais animada e afoita demonstrou muita vontade de dançar lá dentro. Até tentamos, mas só era permitida a entrada de casal. Portanto, não era o nosso caso. Mas como para quase tudo nesse mundo se dá um jeito, uma delas deu uma sugestão:
-Se o João não se importar ele poderia formar par, alternadamente. Ou seja, entrava com uma; depois saía e voltava com outra e assim por diante!
- Nada contra, falou o cavaleiro da turma. Mas não seria mais fácil e menos dispendioso duas de vocês tentarem novos pares?
-Querer é uma coisa e conseguir é outra bem diferente!
-Bem, então ficaremos assim mesmo, curtindo daqui de fora com esses outros jovens.
Como a noite estava maravilhosa, gostosa, linda e o tempo muito bom, no começo da madrugada aproveitamos que algumas pessoas deixavam o local, aleatoriamente, resolvemos também fazer o mesmo. Fomos descendo, paulatinamente, pois o local onde estávamos ficava num alto conforme foi dito no início. Então chegamos em paz e alegres ao nosso pequeno aconchego. Na hora de nos acomodar para dormir a gozação, isto é, a brincadeira já estava prevista. Como era muita areia para o meu caminhão, o assunto sexo foi até abolido da conversa. Cada um se acomodou ao seu modo e apenas uma brincou ao falar:
-Cuidado, João, para não dar uma de sonâmbulo e descer daí descer do seu galinheiro!
- Se estou num galinheiro, logo aqui tem....
E a risada foi geral. Pouco a pouco o silêncio tomou conta do pequeno ambiente e tivemos um final de noite tranquilamente!
Antes da praia, como de praxe, aquele café reforçado e agora preparado por mãos femininas. Só que, por mais que o único cavaleiro pretendesse dormir mais um pouquinho, não conseguia, por causa do ti-ti-ti das três tagarelas. E ficou mais uma vez provado o que o escritor e humorista Millor Fernandes escreveu: “Duas mulheres conversando pode ser um diálogo, três já passa a ser um comício!”. E era isso mesmo que estava acontecendo naquela pequena cozinha envolta de um aroma gostoso de café, com uma visão da praia convidativa para um bom banho e curtição.
Quando o sol se firmou lá fomos nós rumo à praia que já estava sendo invadida por centenas de banhistas. E sempre chegando mais. Então, para deixar as colegas bem à vontade para paquerar e serem também, combinei me distanciar um pouco, mas dentro do horário combinado voltaria para reencontrá-las e pensamos no almoço. Após este, um pequeno descanso, limpeza do local e arrumação das nossas coisas, seguimos para a rodoviária.
Aqui, após uma pequena espera, na hora de embarcar, por pura mera distração, após tratar as três garotas com toda a educação, respeito, cometi uma pequena gafe que não foi perdoada por elas, pelo menos na brincadeira: na hora de entrar no ônibus, simplesmente entrei primeiro, enquanto as meninas o fizeram logo em seguida, mas resmungando:
-Muito bem, cavaleiro João, vai entrando primeiro!
-Obrigado pelo cavaleiro, ironizei.
-Desculpe João, cavalheiro! E obrigado por esse gostoso passeio que está chegando ao fim!
- Não tem nada que me agradecer. E sim a Deus por nossa saúde e pelo tempo maravilhoso que fez durante esses dias.
- É verdade. Só que nosso passeio ainda não terminou!
-Também concordo.
Logo o ônibus deu partida e voltamos para o recanto dos nossos respectivos lares. Afinal, a semana já estava começando, enquanto o serviço nos aguardava para desenvolvê-lo com responsabilidade. Tínhamos certeza que outras oportunidades logo iriam surgir. E desta vez, quem sabe, formaríamos os três pares e aí sim, tudo indica que o desenrolar da história seria bem diferente. Ninguém tinha a menor dúvida quanto a isto. Pois tudo na vida tem o seu tempo certo. Nunca compensa colhermos a fruta antes dela ficar madura no seu habitat. Pode travar na boca. Só que quando ela estiver no ponto, como se nos convidasse para saboreá-la, não devemos pensar muito ou postergar uma decisão, porque senão virá outro mais experto e aí já era...Pois como bem escreveu alguém:
"HÁ TRÊS COISAS NA VIDA QUE SÃO IRREVERSÍVEIS, ISTO É, NÃO VOLTAM ATRÁS: A FLECHA ATIRADA, A PALAVRA DADA E A OPORTUNIDADE PERDIDA!".
João Bosco de Andrade Araújo
www.joboscan.net