- Duque, o cão amigo -

(Por Onofre Ferreira do Prado)

Duque era um daqueles companheiros de todas as horas. Guardião atento, um verdadeiro amigo, em quem o agricultor Marcionílio podia confiar.

Numa tarde de fevereiro, logo depois de uma chuva, Marcionílio trabalhava na capina da roça de milho, ao lado da esposa, quando ouviu um latido na direção da lavoura de arroz, uns duzentos metros dali. Interrompeu repentinamente o serviço, apoiou-se no cabo da enxada, apurou os ouvidos, escutou de novo outro latido, depois outro mais cadenciado, revelando que algo de estranho estava acontecendo. Naquela hora, pressentiu algum perigo envolvendo o seu cão amigo. Foi aí, que perguntou para a esposa, você está escutando mulher? Parece que Duque está acuando um bicho! E se eu não estiver enganado, pelo jeito estranho é uma cobra cascavel. Estou cismado que ela picou o meu cachorro. Mal ouviu a resposta de Alessandra, saiu em disparada em ziguezague por entre os pés de milho, no rumo de onde veio o ganido.

Chegando perto do cão, foi observando com cuidado, daqui, dali, até que percebeu que se tratava mesmo de uma cascavel de grande tamanho, enrolada junto de uma moita de arroz, preparada para dar outro bote. Naquele instante, o seu companheiro já havia sido ofendido, começava a agonizar, perdia as forças, não respondia mais aos carinhos de seu dono. A primeira preocupação de Marcionílio foi salvá-lo. Assim, tomando-o pelos braços, saiu correndo até a casa, a fim de administrar-lhe uma doze de um pó conhecido pelo nome de pó de lafaiete, um antídoto que havia comprado para uma emergência, no caso de um acidente provocado por animais peçonhentos, aliás, o mais eficiente antídoto que se tinham notícias naquela região de Minas Gerais, manipulado por um conhecido raizeiro de Goiás, de nome Lafaiete.

O remédio, no entanto, não chegou a ser dado, uma vez que o veneno foi letal, terminando logo com a agonia do cão amigo.

No desespero, Marcionílio vendo que não podia fazer mais nada, só teve tempo de pensar em vingança. Pegando a espingarda, voltou correndo ao local, só pensando em dar fim naquela "fera", que se fosse embora representaria um eminente perigo para outros viventes. Lá chegando, notou que ela continuava enrolada no mesmo lugar. No ápice da raiva, apontou a arma, mirou o alvo com segurança, foi puxando o gatilho. E aos gritos de desabafo: vinguei, vinguei, vinguei! Cobra traiçoeira, de hoje em diante você não fará mal a mais ninguém, peste maldita!

Aquele acidente causou uma grande consternação. Marcionílio e sua esposa não paravam de contar como o fato aconteceu, nem deixavam de enaltecer o amor que tinham por aquele cão amigo. Na simplicidade comovente daquele casal, Duque era tão amigo, tão solícito, que faltava pouco adivinhar a vontade deles!

Onofre Ferreira do Prado
Enviado por Onofre Ferreira do Prado em 09/04/2009
Reeditado em 09/10/2011
Código do texto: T1531210
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