Polly 3 anos depois

3 anos haviam se passado...

O escritório da Anistia Internacional era amplo e bem aconchegante. Haviam inúmeros panfletos colados nas paredes. Três mesas de atendimento para umas 50 pessoas. Pequenas em forma de meia lua e azuladas, as mesas estavam cobertas de papéis, fotos de pessoas desaparecidas, documentos oficiais e outras coisas que ele sabia, deviam ser muito importantes.

Apesar da correria e da urgência nos olhos das pessoas que estavam ali, o ambiente era tranquilo. Numa mesa no final da sala, uma moça escrevia freneticamente,enquanto um homem de meia idade falava sem parar.

Ele sabia que muita coisa poderia ter mudado, mas quando a viu daquele jeito temeu que as coisas tivessem mudado mais do que previra. Apertou com força a correntinha que trazia nas mãos. E foi em direção a moça no final da sala.

Os cabelos não eram mais castanhos. Eram de um vermelho muito vivo, o último arroubo de rebeldia de Polly. O lápis preto não era mais um borrão nos olhos. Os brincos de conchas deram lugar para os de latão. Não usava mais roupa preta ou excessivamente colorida. Agora nela era tudo sóbrio e clássico.

Carlos involuntariamente notou outras mudanças, como seus seios maiores e a nadega mais redonda. A cintura, o quadril... como ela havia mudado. Quanto tempo! Continuava baixinha, mas definitivamente não era mais uma menina.

Carlos não sabia se a garota continuaria ouvindo as músicas que ouviam juntos, se ainda gostava dos filmes que haviam assistido e se ainda gostava de andar ao ar livre e caminhar na praça. Tinha tantas coisas que gostaria de perguntar! Tantas coisas que gostaria que ela soubesse!

-Quem diria não é Dona Polly?

Polly pareceu se pertubar um pouquinho ao ouvir aquela voz conhecida

-Carlos?! - ela abriu um sorriso acolhedor - Meu Deus, quanto tempo??- e por um momento tudo pareceu continuar o mesmo para aqueles dois adolescentes. Mas eles não eram mais adolescentes...

- preciso terminar de atender este senhor- disse com mais impaciência do que pareceu querer demonstrar -será que poderia esperar um pouco?

Ele deu um sorriso. não queria que ela percebesse que estava desapontado. A Polly, a sua Polly jamais deixaria de falar com os amigos por causa de serviço. Será que ele consiguiria amar esta nova Polly como amava a outra? Ele também havia mudado. Será que ela amaria a pessoa que se tornara? Soltou um suspiro. Olhou mais uma vez para a corrente que trazia nas mãos. É as coisas realmente haviam mudado.