Mil faces, mil fatos
Mesmo que nos olhos aja falta, ainda sim não a de faltar. Percebi que muitas vezes quis ser Deus e me coloquei no seu lugar, foi fácil sentar no seu trono, difícil foi comandar tamanha complexidade que é a vida e quando falo em vida observo que perdi a metade tentando ser o que não nasci para ser
Foi fácil por as personas que me dispus a ser, difícil foi conseguir ser o que não era por muito tempo. Constantemente aprecio as estrelas e vejo que meu sonho de mil faces era ilusório e que ninguém consegue ser o que não foi feito para ser, uma hora tudo cai e nestas horas os castelos são de areia e os bancos de madeira.
A falta que achava existir em mim, vejo que não faltava, era somente espaços vazios em meu ser por ter tentado ser Deus é digo tentado como fui quando percebi que o livre arbítrio é tentação na Mao dos mortais, é como hum quilometro de guloseimas onde na largada existe três crianças seria tentação não comer, ou então seria insano comer vomitar e voltara comer, isso falo antes do tiro de largada.
Fantasiei tanto minha vida que hoje se tornou difícil saber o que é real.
Havia um ser supremo que quando ele decidiu que eu deveria existir, fez para mim dois caminhos e me deu a opção de escolher um dos dois e mais me dotando de liberdade ousou entregar as enxadas de minhas vontades, então eu poderia ir alem dos dois caminhos, podia abrir atalhos e eu nato por natureza a ser livre e rico em teimosia e auto-suficiência me perguntava por que não poderia eu abrir meus caminhos, então comecei a trilhar minhas próprias estradas.
Os rumos que muitas vezes tomei pareciam retos aos nossos olhos, mas seu fim me trazia lagrimas que nem sempre suportava seus escorrimentos, achei que podia conquistar garotas e isso era fácil, dizer o que o outro esperava ouvir era uma habilidade que eu possuía e assim conquistei minha primeira mulher, mãe de dois dos três filhos que tenho. A Lucia era bonita e ingênua quando a conheci eu um cara esperto, descolado e dono dos meus próprios passos, com talento para musica, o canto, no dedilhar da viola eu soltava meus artifícios de conquista.
Sempre foi fácil se esconder atrás dos meus talentos, atrair pelas qualidades a maquiar os defeitos que eu mesmo me enganava dizendo que não tinha. Desta união nasceram duas crianças inocentes, sem culpa de ter um pai tão artificial quanto os sabores dos sucos tomados aos domingos nos almoços. Minhas faculdades eram concentradas no ter, no ser, no poder, no querer, e nunca imaginei que elas se concentrariam um dia no perder, mas isso o tempo encarregou de providenciar, hoje lembrando tudo isso vejo que foi necessário eu passar pelo vale de ossos secos sentimentais, emocionais obscuros do meu eu, só faltava o último passo para isso, vir a usar droga e exatamente isso que aconteceu, mesmo eu sendo casado conheci a noiva branca que se estica na mesa de vidro esta noiva me trazia fantasias internas tão profundas quanto o inferno.
A cocaína me trouxe prazeres que nunca imaginei ter e com estes prazeres ganhei novas personalidades. Meu caráter já estava fragmentado, agora eram cacos jogados em um latão de lixo, o tudo adquirido na minha vida foram ventos que passaram rapidamente, agora eu estava viciado na cocaína, e muito era pouco, vivia na dependência e por depender dos prazeres irreais que o pó me trouxe acabei perdendo tudo. Resgatar o que foi jogado abismo abaixo é difícil e exige esforço próprio e quando não se tem forças nos braços para dar abraços, eu era pai, mas não tinha aprendido ainda ser filho, eu era esposo, mas ainda não havia aprendido a ser amado por mim mesmo, quebrar toda esta deficiência criada em anos de uso de drogas seria algo complicado mais não impossível, descobri que minha vida regada a luxuria, preguiça, inveja, e vontades próprias me trouxeram uma doença, agora eu era portador da adicçao, uma doença sem cura interna que se expressava externamente através dos comportamentos, doença com aspectos mentais espirituais e físicos, e para desvincular todo meu ego inchado e este elo algo precisei fazer pedir ajuda, e fiz isso.
Internando as más idéias
Minha primeira internação aconteceu quando tinha 23 anos tive mais 12 internações e não se assuste foi ávida que escolhi e tive que pagar o preço desta escolha, no começo achava que deveria internar somente o corpo, tive que aprender friamente que a internação é emocional, mental, espiritual é que tudo acontece, quando deixo as coisas acontecerem o mais longo caminho é o certo. Na verdade Deus me deu mais que uma vida, mais do que um dia me deu o poder de sentir a brisa.
Às vezes um vazio é o fim de um ciclo que gera o começo de uma nova estrutura intern. Tive que perder tudo e me esvaziar para entender que era supérflua toda forma de matéria, que são os sorrisos que alimentam alma e que purpurinas no céu são luzes de Deus espalhadas pelo o horizonte, aprendi ver a vida com novos olhos e com tonalidades diferentes e tudo então mudou.
Se namorar no espelho fazia parte de uma terapia para aprender a se amar, ninguém pode dar o que não se tem, nunca amei meus filhos talvez por não ter aprendido a me amar, foi nos meses desta minha ultima internação que pude perceber que meus momentos mais alegres são quando estou bem comigo mesmo e que não vale a pena perder tempo tentando substituir vazios é preciso ter ação em cima de todo caos emocional que a droga provoca, os amigos verdadeiros que possuímos e algo maior que nós mesmo são peças chaves para preencher este vazio, que por muito tempo tentei substituir por bebidas, mulheres, drogas ou coisas materiais e não resultou em nada.
Foi num dia de chuva o centro de tratamento estava monótono, nada me agradava eu conseguia ver defeito em tudo, quando um amigo me disse que o problema estava comigo. Tal fato me fez refletir sobre como poderia mudar o universo que me cercava, então percebi que nada poderia fazer para mudar o universo externo, mas se eu trabalhar meu universo interno tudo ficaria bem e o sol seria mais caloroso ou a chuva mais suave. Fiquei seis meses excluídos da sociedade, mas quando sai consegui reconquistar meus filhos e minha família, hoje sou pai, e posso dar o que tenho, amor. Faz cinco anos que não tomo minha droga de preferência, mas isso não me garante nada se hoje eu não me amar.