O JANTAR
Gracinha mal podia crer no que ouviu; ao telefone, sua tia Mafalda a convidava para um jantar ás 8,na mansão do seu primo,no Horto Florestal,um dos endereços mais chiques da cidade.D.Mafalda,senhora simpática de conta bancária e nome quilométrico,tinha se lembrado dela,pertencente ao ramo pobre da família,como a prima Bette e o primo Pons,pois,a prima Gracinha,lia Balzac,sim senhor,apesar de professorinha primária formada pela Escola Normal.
Ao saber da novidade, o marido estranhou.
-Posso ser bronco, mas, um jantar como você está falando tinha que ter RSVP; e,numa cidade como a nossa,em pleno verão,quem daria um jantar num domingo?Eles geralmente são aos sábados ou ás quartas-feiras,dia morno,sem nada prá se fazer.
-Sei disso, como já te disse ,é um jantar chique, porém, familiar para comemorar o “niver” (tinha que ser “niver”,como dizer um simples aniversário;quem comemora aniversário é pobre,com direito a churrasco na laje e tudo)do filho dela que é médico e mora em Brasília;provavelmente é o dia que teve livre.
-Não sei não, rosnou o marido, um casca grossa desconfiado, militante do PT e que odiava ricos.
O telefonema tinha sido na segunda á noite, a festa seria domingo próximo, haja correria; alugar um belo vestido, um pretinho clássico,cuidando para que não fosse cheio de lantejoulas e paietés,roupa típica de moradora de periferia ou travesti.Sapato,bolsa(bolsa ou minaudiére,que dúvida!),acessórios,o velho colar de pérolas de sua mãe,cairia bem.E,sobretudo,o presente.Tinha que ser chique e ao mesmo tempo despojado,a tia,consultada,disse não saber o gosto do filho,tão pouco se viam...Decidiu-se por um whisky,não qualquer whisky,mas,O whisky,infelizmente não poderia ser o Royal Salute,600 pilas,o marido enlouqueceria,um terço do seu salário.Decidiu-se pelo Chivas,numa bela embalagem metálica,comprado na mais sofisticada delicatessen da cidade.
Outra providencia a ser tomada seria alugar um carro com motorista, não iria ela naquele lexéu que o marido modestamente chamava de carro;alugou um Honda Civic,com um motorista de bonezinho e tudo.
Tudo decidido, passou o sábado no cabeleleiro, corte, escova,manicure,tudo sob o olhar cético do marido,que pagava as contas.Fazer o que?Adorava aquela mulher, bonita,inteligente,amorosa,não fosse essa fixação pelos parentes ricos,seria perfeita.Devidamente embelezada,já que estavam mesmo no shopping,resolveram almoçar e tomar um sorvete,amorosos e contentes.
Como o marido havia se recusado terminantemente a ir ela levaria o filho adolescente, seria bom para ele aprender a conviver em sociedade. No país do Q.I.(quem indica) e dos filhos d’algo é sempre bom para a carreira de um jovem conhecer gente importante;aliás,o rapaz era afilhado do aniversariante,em borá este nunca lhe tivesse visitado nem lhe dado um “figo podre”,como citava sua mãe,senhora de cabelo nas ventas e língua afiada.
Em fim, amanheceu o domingo,dia lindo,sol radioso.Ela se preparava para ir á praia,pegar um bronze,quando o telefone tocou;era a tia:
-Alô, oi tia,tudo bem,já estou com tudo arrumado,logo estarei lá.
Do outro lado da linha,a tia parecia desconfortável.
-Gracinha, oi minha querida,me perdoe,o jantar foi ontem...
Gracinha mal podia crer no que ouviu; ao telefone, sua tia Mafalda a convidava para um jantar ás 8,na mansão do seu primo,no Horto Florestal,um dos endereços mais chiques da cidade.D.Mafalda,senhora simpática de conta bancária e nome quilométrico,tinha se lembrado dela,pertencente ao ramo pobre da família,como a prima Bette e o primo Pons,pois,a prima Gracinha,lia Balzac,sim senhor,apesar de professorinha primária formada pela Escola Normal.
Ao saber da novidade, o marido estranhou.
-Posso ser bronco, mas, um jantar como você está falando tinha que ter RSVP; e,numa cidade como a nossa,em pleno verão,quem daria um jantar num domingo?Eles geralmente são aos sábados ou ás quartas-feiras,dia morno,sem nada prá se fazer.
-Sei disso, como já te disse ,é um jantar chique, porém, familiar para comemorar o “niver” (tinha que ser “niver”,como dizer um simples aniversário;quem comemora aniversário é pobre,com direito a churrasco na laje e tudo)do filho dela que é médico e mora em Brasília;provavelmente é o dia que teve livre.
-Não sei não, rosnou o marido, um casca grossa desconfiado, militante do PT e que odiava ricos.
O telefonema tinha sido na segunda á noite, a festa seria domingo próximo, haja correria; alugar um belo vestido, um pretinho clássico,cuidando para que não fosse cheio de lantejoulas e paietés,roupa típica de moradora de periferia ou travesti.Sapato,bolsa(bolsa ou minaudiére,que dúvida!),acessórios,o velho colar de pérolas de sua mãe,cairia bem.E,sobretudo,o presente.Tinha que ser chique e ao mesmo tempo despojado,a tia,consultada,disse não saber o gosto do filho,tão pouco se viam...Decidiu-se por um whisky,não qualquer whisky,mas,O whisky,infelizmente não poderia ser o Royal Salute,600 pilas,o marido enlouqueceria,um terço do seu salário.Decidiu-se pelo Chivas,numa bela embalagem metálica,comprado na mais sofisticada delicatessen da cidade.
Outra providencia a ser tomada seria alugar um carro com motorista, não iria ela naquele lexéu que o marido modestamente chamava de carro;alugou um Honda Civic,com um motorista de bonezinho e tudo.
Tudo decidido, passou o sábado no cabeleleiro, corte, escova,manicure,tudo sob o olhar cético do marido,que pagava as contas.Fazer o que?Adorava aquela mulher, bonita,inteligente,amorosa,não fosse essa fixação pelos parentes ricos,seria perfeita.Devidamente embelezada,já que estavam mesmo no shopping,resolveram almoçar e tomar um sorvete,amorosos e contentes.
Como o marido havia se recusado terminantemente a ir ela levaria o filho adolescente, seria bom para ele aprender a conviver em sociedade. No país do Q.I.(quem indica) e dos filhos d’algo é sempre bom para a carreira de um jovem conhecer gente importante;aliás,o rapaz era afilhado do aniversariante,em borá este nunca lhe tivesse visitado nem lhe dado um “figo podre”,como citava sua mãe,senhora de cabelo nas ventas e língua afiada.
Em fim, amanheceu o domingo,dia lindo,sol radioso.Ela se preparava para ir á praia,pegar um bronze,quando o telefone tocou;era a tia:
-Alô, oi tia,tudo bem,já estou com tudo arrumado,logo estarei lá.
Do outro lado da linha,a tia parecia desconfortável.
-Gracinha, oi minha querida,me perdoe,o jantar foi ontem...