Castelos de Areia
Alicia construía mais uma vez seu castelo de areia. Era o terceiro que ela fazia, o primeiro fora derrubando por uma onda, súbita, traiçoeira, que acertou em cheio a lateral direita de seu pequeno castelo, que ainda estava disforme. Na segunda tentativa, Alícia, tentava com suas pequenas mãos e gestos ágeis, construir a segunda parte do castelo em cima do antigo que havia sobrado e virado apenas uma pequena montanha de areia molhada. Ela já estava orgulhosa com um pequeno muro que havia erguido, e um buraco a frente que seria seu lago, mas de repente, ao retirar mais uma porção de areia do "lago", seu castelo começou a escorregar para dentro dele. Ela sem perceber havia retirado as bases que sustentavam a parede interna do castelo. Pobre Alícia. Ela resmungou, ficou de pé e pôs-se a chutar o que havia restado do castelo e depois se sentou em frente àquela enorme pilha de pequenos montinhos de areia. Refletiu e pensou que poderia fazer um castelo lindo, maravilhoso e nada dessa vez o destruiria. E começou a cavar com afinco, fez estruturas para que o "lago" não afundasse o castelo, montou um muro, e sorriu ao ver que ja tinha até uma torre alta, onde provavelmente uma princesa estaria presa esperando seu príncipe chegar. Estava sentada com as pernas cruzadas, cheia de areia por todo seu maiô rosa, com algumas pazinhas e o baldinho jogados de lado. Olhou para o mar, medindo para ver se as ondas chegariam ali depressa, achava que não. Mas eis que ao seu lado surge um par de pernas, e justamente um dos pés posiciona-se no meio de seu castelo, destruindo-o, amassando-o. Alícia olha com os olhos cheios de lágrimas de fúria, e encontra os olhos de um garoto estranho, que sorri com sarcasmo, feliz por destruir, pela terceira vez, o castelo de areia que ela construíra.
Alícia salta da cama, o despertador tocando ao seu lado, tem que se arrumar para ir trabalhar. Ela percebe o sonho estranho que teve, e se recosta em seu travesseiro para lembrar dos detalhes. No sonho, ela criança, castelos de areia... Suspira, atira o lençol para o lado e se levanta. Abre a janela, o sol esta nascendo e o céu se colorindo com poucas cores. Se lembra do sonho ao olhar para o mar. E percebe que é hora de construir castelos mais sólidos, porque os de areia, num piscar de olhos deixam de existir.