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TOCANDO A VIDA...


Há uma mulher que acorda todos os dias como se fosse o melhor da sua vida. Ela sonha, ri, chora, acredita, sofre, tem esperança, ama. Ela é poetisa...

Em tudo o que vê, dá forma, transforma, vira inspiração. Apressa em pegar o caderno que ainda resta da faculdade, um lápis gasto, anota antes que o vento apague as ideias que vão surgindo.

Em seus recônditos sonhos, há um segredo. Acho que todos os poetas carregam em si segredos. Seus ou de alguém. E essa mulher de olhar de paz, chamou excessiva e incansavelmente por um amor que possa resgatá-la da prisão da qual ela própria se prendeu.

Então aconteceu... Apareceu de repente, numa noite agradável, um “otorrino da alma” - o poeta - que ouviu o seu chamado e as palavras dele se encaixaram em perfeita sintonia com as dela. Nesse enlace de poeta e poetisa, formou-se um elo que não se rompe mesmo havendo distâncias ou ausências.

Embora ela esteja embevecida com tal fascínio do poeta, sabe mais ainda que ele não lhe pertence... A poetisa compreende que ele não é seu exclusivo, mas de tantas outras mulheres que o buscam, carentes e sedentas pelas suas estonteantes palavras. Palavras qual drogas entorpecentes que viciam, deixando-as alucinadas querendo sempre mais a presença do homem-poeta.

Essa mulher abdica dos seus sentimentos e sai de cena para deixar o poeta livre como deve ser.

Vai até a sala, pega o disco antigo de vinil de mil novecentos e oitenta do Ivanildo. Escolhe um mix “Coktaills for two e Summertime”, fecha os olhos, devaneia... Provida das palavras do poeta gravadas no coração ao som da música, um tanto estalada como se estivesse estourando pipocas... Abre os olhos e lembra que precisa comprar agulha e cristal novos.

Fecha novamente os olhos, retornando para seu mundo imaginário. Munida da música suave ao fundo e das palavras do poeta, quase que personifica poesia e melodia em poeta, como se estivesse mesmo bailando com ele. E ri com o cantinho dos lábios, uma lágrima rola na face... Não de dor. De emoção por acreditar estar em companhia do homem que a encantou. Permanece assim em transe com o coração em descompasso até que a música fica repetindo na parte mais bonita.

Abre os olhos e sente por voltar à realidade... Mas ela não cultua a dor. Transforma a tristeza e a solidão em poesia e arte. Ela sabe que assim como a música que ouve, sua vida vai continuar tocando. Precisa apenas trocar o cristal e a agulha...


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