**MULHERES PERDIDAS**
= Perdida na cidade de São Paulo =
Oito horas de uma noite quente de verão, em um dia vinte de dezembro de um ano tal a que muitos outros já se sucederam. O ônibus de turismo, fretado por um grupo de estudantes do segundo grau, em uma longínqua cidade do interior de Minas Gerais, estacionado em frente ao estádio do Pacaembu, na capital de São Paulo, preparava-se para seguir viagem. Havia chegado da excursão de vinte e seis dias por todo o Sul do Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina. Fazia parte do roteiro pré-estabelecido pela comissão de festas do curso noturno.
Ao fim do jogo realizado naquele estádio – última parada antes da viagem de volta à pequena cidade de origem – a jovem, de apenas dezoito anos, um tanto assustada, mas decidida, lançou mão de sua pequena bagagem e, para surpresa de todos, disse-lhes, sem pestanejar, de uma só vez:
- Eu fico por aqui, amigos! Avisem a meu pai que não voltarei, pelo menos por enquanto e que darei noticias.
E, assim dizendo, deixando a todos mudos com a bomba que acabara de explodir em suas mãos, a jovem parou um táxi e saiu dali, sem nem mesmo olhar para trás. Fugiu, não apenas do ônibus de turismo e de seus amigos, mas de uma vida que jamais seria retomada. Era loucura, ela sabia! O plano, cuidadosamente elaborado durante os quatro anos de duração do curso, não lhe permitia retroceder agora.
A cidade explodia de pessoas indo e vindo e ela não tinha a menor noção de por onde começaria sua nova vida. Encontrava-se, literalmente, perdida naquela metrópole assustadora. O pouco dinheiro que tinha mal dava para pagar a corrida até o centro da cidade, onde ficara.
Alojou-se em um hotel simples e barato. E, ali, na solidão de si mesma, sentindo seu corpo congelado pelo medo, na fragilidade de sua insegurança, ela chorou. Estava perdida. Perdida na cidade que a amedrontava, perdida por nada conhecer da vida e dos caminhos que iria percorrer dali em diante e, principalmente, perdida em seus próprios conflitos!
Abriu a pequena janela do quarto e desligou-se, por algumas horas, admirando a beleza da grande metrópole à noite e, tão inebriada quanto aterrorizada, decidiu aceitar o desafio que aquela cidade, congestionada de carros e pessoas, lhe propunha. Ela estava aterrorizada, sentia calafrios pelo corpo, mas nada a deteria. Iria aprender a conviver com seus temores.
Tomou um banho, naquele quarto simples que suas posses podiam pagar, deitou-se, ligou a TV e relaxou. Tudo era novidade. Tudo era assustador! Amanhã ela pensaria no que fazer. Dormiu o sono dos jovens, despreocupado e profundo, sem saber o que a esperava nos anos seguintes de sua vida.
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NA: Qualquer semelhança com a realidade, não terá sido mera coincidência.
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Este texto faz parte do II Desafio Recantista de 2009.
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