Café com língua

Enquanto não chega a hora de pegarem

no batente, os operários tomam café com língua diante

da construção.

Alguns são jovens ainda, outros, tem na carteira de

trabalho registros de várias empresas as quais prestaram

serviço anos a fio.

Chegam a pé, de bicicleta, trazem nas mãos a marmi-

ta, emblema, decalque, bandeira que caracteriza o baixo

operariado nacional.

Uns são solteiros e se dão ao luxo de usarem tênis

simulacros dos das marcas oficiais.

Os casados, geralmente, chegam graves, pois sabem

que a fome dos filhos não pode esperar.

Reunidos ali defronte a construção luxuosa que se

ergue contam piadas, comentam as últimas partidas

dos campeonatos regionais de futebol.

Mas parece que eles não tem consciência de sua

importância para a sociedade. Saberiam o quanto é relevante

cada tijolo, o que significa cada lata de

concreto erguida no ar?

Já é noite.Marx ainda dorme. Uns passam no

boteco tomam umas e outras e jogam conversa fora. Outros

vão para seus barracos, vejo suas sombras, espectros a

a vagarem na escuridão.

CAIO DUARTE
Enviado por CAIO DUARTE em 27/03/2009
Reeditado em 07/04/2009
Código do texto: T1508523