Café com língua
Enquanto não chega a hora de pegarem
no batente, os operários tomam café com língua diante
da construção.
Alguns são jovens ainda, outros, tem na carteira de
trabalho registros de várias empresas as quais prestaram
serviço anos a fio.
Chegam a pé, de bicicleta, trazem nas mãos a marmi-
ta, emblema, decalque, bandeira que caracteriza o baixo
operariado nacional.
Uns são solteiros e se dão ao luxo de usarem tênis
simulacros dos das marcas oficiais.
Os casados, geralmente, chegam graves, pois sabem
que a fome dos filhos não pode esperar.
Reunidos ali defronte a construção luxuosa que se
ergue contam piadas, comentam as últimas partidas
dos campeonatos regionais de futebol.
Mas parece que eles não tem consciência de sua
importância para a sociedade. Saberiam o quanto é relevante
cada tijolo, o que significa cada lata de
concreto erguida no ar?
Já é noite.Marx ainda dorme. Uns passam no
boteco tomam umas e outras e jogam conversa fora. Outros
vão para seus barracos, vejo suas sombras, espectros a
a vagarem na escuridão.