Presa
Aqueles pensamentos me perseguiam. Não me deixavam quieta e eu não podia fazer nada para afastá-los de mim.
De qualquer forma eles mudavam minha rotina, mas eu já encarava aqueles desejos como ordens. E ordem eu só recebia de Deus.
Sempre que podia alguém me levava aos domingos para assistir a missa, essa rotina parecia inalterável até o dia que passei a observar o padre de maneira carnal.
Sentia-me culpada por estar no templo de Deus pensando em sexo com um servo dele, mas eu não podia evitar. Olhava as mãos dele e imaginava o que ela podia fazer debaixo da minha saia.
Esses pensamentos me deixavam trêmula, sentia um arrepio, ondas percorriam meu corpo. Sensações que nunca senti com meu marido.
Orei com todas minhas forças, mas pensamentos perversos insistiam em me perseguir.
Tinha fantasias com vários homens, podia sentir o cheiro de cada um, imaginava os beijos, a textura da língua, o tamanho de seu membro.
Isso acontecia a qualquer hora do dia. Podia ser com o caixa da padaria, com o rapaz da farmácia, com homens que só existiam em minha mente.
E nessas divagações não existiam sentimentos, eu queria sexo. Era capaz de fazer qualquer coisa em qualquer lugar. A simples possibilidade de transgredir, de fazer o proibido me deixavam completamente excitada, quase anestesiada.
Gostaria de proporcionar prazer para vários homens, sem ao menos saber o nome deles. Assim como o vampiro que busca sangue eu busco prazer.
Mas esses prazeres estão presos em minha mente. Não tenho como realizá-los. Tive a vida inteira para fazer putaria, mas não fiz. Faltou coragem, talvez o medo de ir para o inferno gritasse mais alto dentro de mim.
Agora presa nesta cadeira de rodas, com 79 anos, mãos enrugadas, olhar sem brilho, o que fazer? Quem irá me ajudar?
Não temo mais o inferno, já estou presa nele.