Quero Renata no meu jardim

Depois de seis meses tive umas das melhores noites de sono da minha vida.

Há exatos 180 dias eu ficava trancado dias e noites em algum motel com amigos e desconhecidas. Ela sempre estava presente conosco.Sempre o pó ao meu lado, em carreiras simétricas.Tudo de bom que eu tinha, foi levado por esse vicío.

Perdi a confiança da minha família, perdi dinheiro, minha empresa quebrou, perdi minha dignidade.Me envolvi em muitas brigas, prisões, andei na contramão. Álias é assim que eu me sentia no mundo, na contramão de tudo.

Enquanto você chega do trabalho, abre a porta de casa, ouve a voz de sua mulher, toma seu banho e dorme, eu perdia noites e mais noites viajando, com pessoas estranhas ao meu redor.Certa vez, minha namorada Renata foi me buscar num motel. Cheirei muito, comecei a quebrar a tudo, e a polícia apareceu por lá. Ela me encontrou transtornado, mas como o dinheiro resolve muitas coisas, ele resolveu me mandar embora daquela vez.

Apesar de alucinado, não pude deixar de notar suas lágrimas. Novamente elas. Seu olhar de reprovação e tristeza me destroçava por dentro. Naquele dia em diante resolvi mudar de vida e decidi que Renata estaria comigo. Para sempre.

Mudei de cidade, aluguei uma casa no litoral. Vinha para o interior de São Paulo para visitar meus amigos que ainda estavam na fazenda tentando a reabilitação.

Me sentia na obrigação de ajudá-los. Todos eles foram muito importantes na minha recuperação. Nesse momento, eu, limpo há apenas seis meses me sentia gente novamente. Eu só queria que as pessoas apostassem suas fichas em mim.

Numa dessas visitas, resolvi sair. Queria ser dono do tempo, das minhas vontades. Renata nunca me proporcionava momentos assim. Sabia todas as minhas senhas, lia todos os meus e-mails, vigiava meu celular. Era praticamente um leão-de-chácara.

Sentia-me ás vezes como um cão, que só pode sentir os prazeres de um passeio quando está com a coleira no pescoço. Andei bastante com o carro, ouvindo minhas músicas, sentindo o vento, sentindo paz.Todos os dias lutava contra a vontade de cheirar. Sonhava com o pó, mas a minha força de vontade era tão incrível que nesse período não tive nenhuma recaída, mas por precaução não me expunha a tentação.

Evitava bares, não tomava bebida alcoólica de jeito nenhum. Por causa disso, parei numa padaria para comer um lanche porque havia passado grande parte do dia sem me alimentar.Como que por magnetismo, olho para trás e vejo-a. Sim, ela com seus cabelos longos e claros, sua tatuagem no ombro, veio para bagunçar minha vida. Por instantes o tempo parou. Ao menos para mim.

Ela estava com duas amigas e depois de um tempo vi que meus olhares eram correspondidos.Tomei um gole de coragem, e me aproximei dela. Perguntei seu nome e senti seu perfume maravilhoso me envolvendo. Priscila, a moça que me faz perder o sono novamente...Trocamos telefone.

No outro dia, um lindo domingo nos encontramos.

Foi paixão a primeira vista. Parecia que fomos feitos um para o outro. Na cama nossa química foi perfeita. Com ela senti coisas que Renata jamais me fez sentir. Nem Renata e nem mulher nenhuma me fizeram tão feliz quanto Priscila.

Ela sabe que luto contra o vício. Ela me apóia, me encoraja, me faz enxergar a vida além da coleira de Renata.

Mas Renata é meu porto seguro, há seis anos agüenta todas as barras terríveis. Não sei o que fazer.

Quero que confiem em mim, quero Priscila, quero Renata no meu jardim.

Luisa Meyrelles
Enviado por Luisa Meyrelles em 25/03/2009
Código do texto: T1504423
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