Nó da gravata

O nó da gravata estava me sufocando.

Conto os minutos para a reunião acabar, estou exausto. Queria descansar, mas minha casa não é o melhor lugar do mundo. Consigo fechar contratos milionários, quase tudo é possível, graças ao dinheiro que eu tenho. Eu só não consigo ter paz na minha própria casa.

Tatiana mora comigo e temos um filho. Perante a sociedade ela é minha esposa, embora eu nunca tivesse a menor vontade de oficializar nada com ela. Quando a conheci, ela era uma estudante com sinceridade no olhar. Era virgem, teve um namorado apenas. Era a boneca, o objeto que eu queria ter enfeitando minha casa. Seu tom de voz era doce, e eu tive a impressão que seria muito fácil controlá-la.

O tempo passou, eu progredi profissionalmente e ela não. Tivemos um filho e ela cumpriu com zelo a função de mãe e dona-de-casa. Mas as coisas mudaram. Tatiana mudou. Passou a exigir coisas e coisas, as brigas eram constantes. A pressão foi aumentando lentamente até se tornar insuportável.

Passei a buscar prazer em outros braços. Gostaria de tentar coisas diferentes com ela. Quebraria a monotonia da minha vida de workaholic e aliviaria a rotina maçante dela de dona-de-casa que sai para o shopping toda a tarde para gastar. Não adianta. Tatiana não mudaria nunca, jamais entenderia meus desejos. E o pior, poderia fugir com meu filho.

Depois de dez anos, me acostumei a viver de aparência, a ser a família de propaganda de margarina. Não pegaria bem no trabalho eu me separar. Éramos exemplo para os demais. Mas isso não me impediu de realizar minhas fantasias e não me impede até hoje.

Sinto um prazer imenso em ter duas vidas, diferentes personalidades. No trabalho sou um cara realizado, respeitado. Para meu filho sou o pai exemplar e carinhoso. Para Tatiana sou o provedor, e para Bianca sou sua mulher. Não resisti, e desde que a conheci jamais deixei de solicitar seu trabalho.

Ela ocupa minha mente, conto os minutos para anoitecer para que eu enfim possa ficar com ela. Quanto mais risco, mais eu me excito. Pego Bianca sempre na mesma esquina e vamos para uma rua sem saída. Lá minha gravata não significa nada, sou apenas eu e ela.Tudo nela é avantajado. Seu membro é imenso, assim como seus seios.

Seu perfume, sua maquiagem, tudo é diferente de Tatiana.

Bianca é a luz e Tatiana é a escuridão.Gosto de ser dominado. Passo a minha vida toda tomando decisões. Qual a escola que meu filho deve estudar, qual restaurante que eu devo ir, quando a construção de minha casa vai terminar. Isso cansa e Bianca é meu escape.

Espero que Tatiana entenda e me espere em casa com o jantar pronto.

Luisa Meyrelles
Enviado por Luisa Meyrelles em 25/03/2009
Código do texto: T1504401
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