Nossa vida é um manjar e não sabemos!

Apesar dos meus sessenta e um ano, não vou me deitar em uma rede armada entre duas jabuticabeiras e ver a estrada passar. Somente na hora que o sol “esfriar”, estou a me embalar. Também não fico simplesmente vendo aminha amada desvendar a ultima receita de um antigo manjar, agora na versão diet. O que me permitirá, diabético, rememorar o tempo de um amigo velho almirante, que me convidando a uma viagem intercontinental a bordo do seu navio, em cada porto provávamos de um manjar diferente..

Mas no Continente Africano aportamos em uma cidade, se é que se é que podemos chamar a miséria de cidade. Nem o manjar dos deuses parecia ser confeitado por ali, era uma vida amarga, mas cheia de sorrisos doces de dentes falhados emoldurados de negro carvão. No dia da chegada, ao primeiro toque no solo, ali a minha frente estava uma mão de braços sem carne, pele e osso com sacrifício erguida a me dar boas-vindas E a outra, do mesmo dono, estendida espalmada a esperar.

Os dólares que eu carregava era fortuna para aqueles olhos, e migalhas tal minha aventura de singrar mares. Mas de nada valeriam naquele momento, pois não havia casa de câmbio por ali. Apressados foram os meus passos nas escadarias do navio, e rápidas as mãos, que por segundos admirei, e da geladeira nelas saíram manjares, doces, refrigerantes. O meu amigo almirante me advertiu; “fartura também mata”. Mas morrer por morrer, por que não morrer feliz!

No dia de nossa partida, lembrando aquele sorriso de esqueleto que perambulava pelo cais, naquela hora com farto pedaço de bolo sujando suas mãos de glacê, lembrei-me também que ao ver a cena não sabia se sorria ou se chorava. Aquela pífia vida onde estaria perguntei aos meus botões. Como botões só respondem em nosso pensamento, só pensei não perguntei ao meu amigo almirante, afinal mal juízo de mim faria dizendo que levei a morte, que mesmo morta os bispos querem que viva.

Pronto. Ele estava morto. E o que restava de seu corpo, que nada já não tinha, era conduzido em um lençol esfarrapado já que caixão lacrado não havia. Enfeitando aquele esqueleto, colocado sobre o peito, uma única flor, uma rosa. A do biscuit açucarado que antes enfeitara a torta de aniversário da mulher do comandante. Desculpe-me literatura, sou com uma vírgula aos pés dos escritores brasileiros. Escrevo nada mais! São tantas as coisas a fazer não posso ficar nem mais um minuto! Mas às tardinhas, às margens da estrada, debaixo das jabuticabeiras, estarei olhado ao alto para ver se te vejo!

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(*) Barão do Mandacaru e das Jabuticabeiras, é um personagem que só tem vida só na ponta dos dedos, mas pensa também, e hoje meditou: “Para alguns a vida só não é mais triste só não é maior, porque eles não conhecem a felicidade

Barão de Mandacaru
Enviado por Barão de Mandacaru em 22/03/2009
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