Coisinhas de mamãe
O fato que descrevo ocorreu numa época em que eu era, pois hoje não sou mais, me perdi no exato momento em que quis encontrar algo que até hoje procuro. Minha mãe olhou para mim e disse: quer ir, vai. E eu fui sem olhar para trás, fui para a vida, cheio de mim, certo de nunca olharia para trás.
Verdadeiramente, era muito jovem, o filho mais novo. Ela nunca deveria ter me deixado sair de casa. Por que não disse o que se espera de uma mãe. Mas, não pronunciou uma frase, resignou. Ela que ficasse lá arrependida por ter-me deixado partir, eu fui.
Eu queria tudo, queria o mundo. Pais não sabem dar tudo, pois nunca foram jovens. Só pensam em educar, instruir.
Fui até ela e pedi alguma grana, pra seguir minha vida, ela, me deu um anelzinho de ouro, herança de minha avó; deu o que tinha de valor.
Andei muito, fui para vários lugares legais. Tenho sonhado com minha mãe tomando conta de mim, dando carinho, protegendo, dizendo pra pegar o casaco, que vai fazer frio, ficando muito risonha, com minha barba crescendo.
Achava minha mãe gente boa. Porque ela não pediu pra eu ficar?Chego a pensar que ela tenha morrido, mas não posso procurá-la, não agora.
O jovem recordou que ela sugerira trocar a camisa, antes de partir: "você fica muito bem com aquela verde escura". Nesse instante teve um desejo profundo e terno de chorar, mas, depois, sentiu raiva daquele afeto silencioso, pronto pra fazer tudo por ele.