As vacas
A manhã ensolarada era um convite a estar feliz. O carro parecia voar sobre a estrada. O vento entrava pelas janelas e unia o pai, a mãe e o pequeno filho numa atmosfera animada. Conversavam, brincavam e riam, ao som da música caipira do rádio, seguindo o asfalto no meio de campos verdes sob um céu azul. Um dia perfeito.
Foi quando o garotinho viu, nos pastos ao lado da pista, algumas vacas. A maioria bem longe, transformando a paisagem numa bonita maquete rural feita de morros ondulados cobertos de grama, algumas casinhas e muitas arvorezinhas. Vacas por trás de cercas de madeira e arame farpado. E o garoto as viu. Vacas! No mesmo instante seu mundo parou: ele ficou fascinado!
Era a primeira vez que via vacas, assim, pessoalmente, mesmo de longe. Até então, nunca havia pensado que elas existissem de verdade, do modo como estava presenciando naquele momento. Nunca imaginou que elas andassem por aí, em pastos, reunidas, comendo capim, fazendo cocô e abanando o rabo. Sabia que tomava leite de vaca, mas para ele, leite era coisa que se comprava em caixinha. O leite sempre esteve por perto, no mercado do bairro, na geladeira da casa ou enchendo o copo na sua frente, e podia sentir o seu sabor líquido descendo pela sua garganta. Ou seja, o leite era real. Mas uma vaca era apenas uma palavra, que ele não imaginava como um ser de carne e osso vivendo em algum lugar. Vacas eram personagens de desenho animado. Igual àquela desenhada na caixa do leite. Eram abstratas. Para ele, eram como se nem fossem reais, apesar de existirem. Eram como os dinossauros.
Ficou olhando pela janela, hipnotizado, todo contente: "– Olha mãe! As vacas! Olha lá!" Seu sonho, a partir desse momento, era ver aquelas vaquinhas bem de perto. Será que eram muito grandes? Iguais a um cavalo ou a um elefante? Queria saber como era ouvir um mugido de uma vaca em sua frente. Ele ficaria maravilhado. Sua imaginação foi mais longe e ele permitiu-se ousar mais: queria passar a mão em uma delas, e pensou até que poderia ter uma como animal de estimação. Andaria o dia inteiro pelo apartamento, bem mansa e sossegada. Seria uma companhia agradável – ele pensava – silenciosa e amiga a vida toda.
Aquele dia ficou marcado. Descobrira que vacas existiam de verdade. Que bichos mais legais! Fantásticos! Amava as vacas. Quando elas ficaram para trás, sumindo no horizonte, ficou pensando nelas pelo resto da viagem.
Enfim, chegaram à chácara. O menino cumprimentou os tios e foi brincar com os primos. Depois de um tempo jogando bola e pulando na piscina, seu pai o chamou, e ele foi correndo. O churrasco estava saindo. O menino, cheio de fome, se fartou.