A senhora ao lado.
Ao lado da casa de meus pais mora uma senhora que sempre viveu sozinha!
Ela divide seu terreno com um bocado de latas e panelas velhas.
Desde pequena eu a vejo sair cedo todas as manhãs em direção a um mercado de um conjunto aqui perto. Não sei bem em quê ela trabalha, mas sei que catar latinhas faz parte da sua rotina e todas as noites durmo ao som sinfônico de latas sendo amassadas.
Cresci, entrei na universidade, mas isso se repete todos as noites, todos os dias, todos os meses, todos os anos...
De todas as casas da rua, a dela é a única que é cercada com ripas e que mantém o mesmo modelo inicial das casas do conjunto. Uma casa pequena. Inicialmente “ideal” para alguém que vive sozinho: um banheiro, um quarto, uma sala e uma cozinha do tipo “americana” – mas que passa longe dos modelos americanos.
Sempre me cumprimenta com um sorriso e outro dia, depois de algum tempo sem me ver, me diz: achei que tivesse casado e se mudado da casa de seus pais!
Na verdade todo mundo pensa isso, a lei é essa: enquanto você não tem sua independência financeira e é solteiro, você vive na casa de seus pais e depois de um tempo é hora de voar sozinho, de ter sua própria família!
Mas essa senhora, porque não seguiu essa “regra”?
Seu único companheiro era um cachorro velho, que latia como se estivesse engasgado, tipo com algo intalado na goela ou como uma Papai Noel rouco e sequelado: "how, how".
Infezlimente ele já morreu há algum tempo.
Sempre que a vejo, sinto algo estranho. Não sei se ela é feliz da forma que vive, mas pra mim viver sozinho quase toda a vida seria algo perturbador.
Não sei se foram as circunstâncias, ou alguma desilusão, ou decisão própria... sei lá o quê. Sei que não entendo o que leva uma pessoa a conseguir viver assim.
Eu gosto de ficar só, no momento prefiro ficar sozinha, mas tenho meus pais, irmãos, sobrinha, amigos... ela não tem nada, ninguém. Sempre a mesma vida!
E eu só queria entender, como alguém suporta viver na solidão?
Não vejo como ter esperança ou razão pra continuar vivendo de forma subumana, mas se as pessoas que vivem assim resolvessem radicalizar e pensar da minha maneira, os mendigos, solitários e excluídos da sociedade estaríam mortos pelas ruas.
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