DE MEIAS SOQUETES...PELO TEMPO...
Ainda era o tempo dos últimos anos dourados, tempos da pracinha por onde a banda passava..."a tocar e a contar coisas de amor".
Tempo dos "coretos" nas cidadezinhs do interior...
Tempo que identidade ainda não existia. Era a própria felicidade.
Tempo a toa, quando a vida nos parecia só festa.
Tempo que o Natal demorava a chegar e o aniversário...também.
Tempo em que não se envelhecia, apesar do tempo!
Tempo de cantar e dançar o Splish -Splash!
E eu ia à escola, sempre afinada no Hino Nacional, interessada nas aulas de OSPB, (acreditava!) de fita branca a amarrar as duas marias-chiquinhas de cabelos brilhantes que me roçavam os ombros.
Tempo do primeiro batom, do primeiro "sutien", do primeiro óvulo florescido...tempo das flores sangrantes.
Flores que aindam brincavam de bonecas...
Tempo de meias soquetes, das mini -saias, dos sapatos "engraxados" e do primeiro "blue jeans" a delinear nossos primeiros contornos de mulher...
Tempo de se apaixonar pelo professor...porém em silêncio, sem nunca desrespeitá-lo.
Tempo da chamada oral.
Tempo dos aviõezinhos pela sala que eram o máximo do desrespeito para com os mestres queridos...
Tempo de se reprovar por décimos de nota.
Tempos sérios aqueles...
Tempo de sardas...logo substituidas palas "espinhas' no rosto, que eram nossa única tragédia.
Tempo de "coque" nos cabelos quando era dia de se ir à matiné, ou à missa da tarde, para se olhar para o menino do lado...
Era tempo de bençãos aos pais na hora dormir e de rezar "arduamente" para o "anjo da guarda", um Pai Nosso da noite para que tivéssmos o pão nosso de cada dia...todos os dias!
Tempo do apito do guarda noturno a anunciar que tudo estava em paz...naquela tão serena rua.
Tempo do também apito do amolador de facas, do vendedor de tablado de guarda-chuvinhas de caramelo, do bijou, do quebra queixo...
Tempo de correr na enxurradas, tempos das pipas, dos carrinhos de rolimãs, tempo que o lobo mau existia só nos contos das fadas, fadas que aliás, faziam milagres com as suas varinhas mágicas!
Tempo do passa-anel! QUE NÃO ERAM ALIANÇAS...com o tempo.
Tempo em que não havia pecados.
Tempo do primeiro beijo...que coisa mais esquisita!
Tempo dum novo amor todos os dias...a se morrer igualmente a cada hora do dia... por um novo amor.
Mas também era tempo do verdadeiro amor.
E eu, que passei por ele, nem enxerguei que aquele era o MEU tempo.
Tempo que saudade não existia.