Amarras
Certa vez ouviu que depressivos nao se deixavam ser feliz. E no instante seguinte passou a decifrar-se como tal. Mas qual a seriedade daquilo?
Imediatamente espaireceu. Tocava música bela e inebriante na TV, quase falhando, ligada ao fundo do cômodo. E como sempre, a música a embebeu em drama e saudade, seguidos de choro calmo, inconformado, porém quieto. O irremediável findo está! E assim seguiu, por mais tantas horas, até, como de costume, cansar-se da lamúria e assumir suas tarefas.
Não mudava. Não importava o que passasse. Não mudava.
Assumia-se dona de um traçado do destino; inerente a este, e vítima de uma senteça por hora cruel, mas que lhe traria de volta tudo aquilo que tivera dantes.
Foi então que certo dia ouviu, de alguém que, na mais pura verdade, queria apenas o seu bem.
"Não mais chore doce menina. Não mais se curve ao que te corroe por dentro, se todas as justificativas desta dor se passarem ao subjetivo. Até onde seguirá este caminho que te algema, que te amarra a uma ilusão de vida, de cumplicidade? Cumplicidade esta que esquecera a lealdade de lado, e todo o resto de sua essência há muito tempo.
Não mais sofra doce menina. Não mais te deixe levar pelos cortes que a saudade abre. Não viva à espera de algo que os cure.
Cura a ti sozinha menina! Na força, na busca; não pelo incerto, que acomoda um pouco o coração, mas na busca da compreensão de que, isto que dói, é já chegou ao fim.
Nao te julga destinada a nada. Constrói teu destino. Fugindo do que te diminui, dia-a-dia, pelo anseio por algo que não mais existe; pela ilusão de uma vida que não é tua."
Neste dia, esqueceu-se um pouco do que a aflingia e levantou-se para a mudança. Direcionou-se à felicidade. Nunca fora depressiva. Era mais uma saudosista de um tempo bom, ingênua demais para deixá-lo para trás à procura de melhores.