Declaração da Tarde

“O quente da cama,

E o frio na rua.

Minha perna bamba

Junto com a tua

Hipnotizante segundo

Em metros de distância

Satisfeito e bicudo

Um bico de ignorância

Apenas tocar

Encostar-se a tal suave

Pele morna atacar

Sensação que me agrade

Sempre toda vez

Não só de presenciar

Você se apresente.

Aqui nesse lugar”.

Esses versos saíram num ritmo transloucado da boca do moiçolo que parou para de frente à sua vizinha de rua, moravam na mesma rua, não do ladinho, porém se viam praticamente todos os dias com, um não sabia o nome do outro, havia apenas eles naquela rua que parecia tão tranquila, quase deserta, sempre o silêncio interrompido por barulhos vindos de outras bocas e de outros sons peculiares do dia-a-dia.

Quase a mesma idade, talvez ele tivesse ensaiado uma vida aquela fala.

Um “obrigada” meio caricato, um risinho frouxo e uma face de quem não entendeu carambolas nenhuma.

Foi tudo o que recebeu dela naquela tarde em que a chuva não apareceu como prometido.